ACABOU A INOCÊNCIA (MAIS UMA) >> Fernanda Pinho

Acabo de descobrir o vídeo lindo de um mendigo que, sem nunca ter estudado música, se revelou um pianista virtuoso, em Vancouver, no Canadá. Excepcional, divino, emocionante. Me arrepiei da cabeça aos pés e quando estava prestes a verter a primeira lágrima meu cérebro disparou um alarme: espera aí, e isso for apenas mais um engenhoso viral? E se esse cara não for mendigo coisa nenhuma e tudo isso não passar de uma estratégia de marketing?

Pelo que andei lendo depois, a história é verídica, sim. De qualquer maneira, me frustra ter perdido o clímax da minha emoção por conta da desconfiança. Resquício de quem ainda está confusa com tantas reviravoltas no caso Rei do Camarote. Isso apenas para citar um exemplo mais recente, já cansei de ser trollada pelos virais internéticos e acho tudo isso muito chato.

Bons tempos aqueles em que existia inocência na internet. Em que a gente ria ou chorava por cenas autênticas, sem medo de ser o primeiro bobo da corte a compartilhar o engano. Tempos em que não havia a necessidade de um enfadonho Detetive Virtual, no Fantástico, e que trollar ainda não era um verbo na língua portuguesa.

Perder a inocência é quebrar o encanto. E uma coisa quebrada – de copos de requeijão à corações -  dificilmente se reconstitui. Sempre haverá uma rachadurinha lembrando que nem tudo é bonito ou divertido como parece. Uma rachadurinha que te fará conter a lágrima de emoção em detrimento de uma desconfiança racional. Ou te fará mudar a toada de um texto que era apenas sobre os vídeos de internet.


Ah, os vídeos. Já que é dezembro – e fomos educados a acreditar nas mais belas bizarrices neste mês – me permitirei a acreditar em todos eles. E não só neles. Dezembro é convite para brincar de ser inocente. Desses convites que nem precisa insistir, aceito de imediato.



Se emocione com o vídeo do pianista, aqui.

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