O ANO QUE VEM. EXISTE? >> Sílvia Tibo

 

Superada, enfim, a fase de especulações acerca do fim do mundo, que se tornou assunto obrigatório em qualquer mesa de bar nas últimas semanas e objeto das mais enfadonhas piadas, é tempo de nos concentrarmos na chegada do "ano que vem".

Esse período sempre provocou em mim certa melancolia. Nada que me impedisse de colocar um vestido novo, sair de casa e participar de uma festa ou outra que aparecesse, ao lado de pessoas queridas. Nada que me impedisse, também, de brindar o início de um novo ciclo. Mas a minha alegria, lá no fundo, era sempre menor e mais contida do que aquela que exalava das outras pessoas, que pareciam sempre mais eufóricas do que eu.

Nunca entendi muito bem isso e sempre me perguntei por que diabos meu espírito nunca foi capaz de acompanhar o brilho dos fogos de artifício que enchem os céus nessas ocasiões. Ou o barulho gostoso que exala das rolhas lançadas das garrafas de espumante, anunciando a virada.

Pra completar, geralmente, o sono teimava em dar o ar da graça antes da meia noite. E eu, então, era obrigada a lutar contra ele por mais algumas horas, vestida em uma daquelas roupas brancas que nunca me agradaram e desejando imensamente estar em casa, assistindo a um bom filme debaixo dos lençóis.

“Deixa de ser sem graça!”, pensava eu, com os meus botões. “Este não é um dia como outro qualquer! Trate de se animar, celebrar e de se manter de pé até o fim da festa, como todos à sua volta”.

Mas nada como o tempo, esse senhor tão bonito, para nos revelar algumas coisas sobre nós mesmos. E também sobre os outros.

Hoje entendo que, na verdade, nada tenho contra as festas de fim de ano, os fogos de artifício, as garrafas de espumante ou mesmo as roupas brancas que invadem as vitrines das lojas nesse período. O que me incomoda é tão somente a expectativa, o romantismo que se cria em torno da chegada do ano novo, como se fosse preciso esperar por ele para dar início a alguns projetos, abandonar determinados vícios e mudar certos comportamentos.

Que bom seria se o espírito do Ano Novo, com todo o seu vigor, estivesse entre nós também nos dias comuns, em situações corriqueiras, como parte de nossa rotina. Numa reunião de trabalho, na volta pra casa, na fila do supermercado. Nos congestionamentos de trânsito, nas repartições públicas, nos ônibus lotados.

Talvez ele nos ensinasse que a vida acontece também ao longo dos outros trezentos e sessenta e quatro dias do ano. E que não é preciso esperar tanto tempo para cultivar bons sentimentos e distribuir sorrisos, abraços carinhosos e votos de prosperidade por aí.

Comentários

Unknown disse…
Talvez seu espírito nunca precisou acompanhar o brilho dos foso porque, diferente dos outros, ele sempre entendeu que todo dia é dia de recomeçar.

Adorei a crônica. E feliz Ano Novo!

Beijos
Unknown disse…
:)
Obrigada, querida!
Um excelente "ano que vem" pra voce e sua familia tambem!
Beijos
Unknown disse…
:)
Obrigada, querida!
Um excelente "ano que vem" pra voce e sua familia tambem!
Beijos
albir disse…
Ótima a sua exortação, Sílvia. Parabéns pra você pela crônica e parabéns pra nós por sua presença em 2012. Que você continue por aqui. Feliz Ano Novo e que esse espírito dure todos os dias.
Unknown disse…
Albir, obrigada!
Foi muito bom conhece-los (ainda que virtualmente) e fazer parte do cronica do dia neste ano que termina.
Que possamos permanecer todos juntos aqui em 2013!
Grande abraco!
Leonardo disse…
Parabéns pelo texto, querida! E feliz dia novo!

Unknown disse…
Obrigada, querido! Tudo de melhor pra vc sempre...
Zoraya disse…
Boa Silvia! Vamos viver um dia de ano novo de cada vez. Também nunca entendi essa euforia. Nosso dia é hoje, né? Beijos de felizes dias de ano novo em todo 2013!

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