PROCURA-SE UM CRONISTA
>> Eduardo Loureiro Jr.

Procura-se um cronista que escreva aos domingos e que seja acordado assim pela Palavra: "Quer fazer sexo comigo?"

Procura-se um cronista que mergulhe fundo no mar para saciar a sede dos sonhos que teve ao madrugar.

Procura-se um cronista que escute intensamente em seu ouvido a música cujo ritmo seus dedos irão seguindo — "lá vem a santa maldita euforia, que me alucina, me joga e me rodopia".

Procura-se um cronista corajosamente indignado com tudo que não presta e, ao mesmo, ingenuamente esperançoso de que tudo — do bom e do melhor — está à espreita.

Procura-se um cronista que esteja descansado para falar palavras sobre as coisas sem jeito que traz em seu peito — e que eu achava tão bom.

Procura-se um cronista que faça, para si mesmo e para seus leitores, um macarrão de letrinhas simples e bem intencionado, tão saboroso de comer quanto fácil de lavar os pratos.

Procura-se um cronista que — mesmo que não tenha sono — se deite após o almoço, e que sinta a paz profunda de ser quem é sem remorsos.

Procura-se um cronista contente que possa ligar pra família e pros amigos queridos, falando o que lhe vier à cabeça, em diálogos descontraídos.

Procura-se um cronista que torça por um time que — perca ou ganhe — joga bonito; um cronista que tenha a sorte de assistir a um 4 x 3 no meio da tarde de um domingo.

Procura-se um cronista que vá na direção do crepúsculo, correndo e pedindo ao sol que se ponha — porque é bonito —, mas que não se vá de todo — porque ficaria desolado e aflito.

Procura-se um cronista que soe seu violão e sue seu corpo, fazendo samba e amor até mais tarde; que abrace como quem arranja música, que beije como quem faz arte.

Procura-se um cronista que leia num livro, antes de dormir, uma história tão encantadora quantos as que sua avó o fazia ouvir.

Procura-se um cronista assim e assim — sem tirano nem pó — para substituir este envelhecido cronista que passou, passou, passou...

Não é preciso currículo ou carta de recomendação. Basta apontar para alguns textos que saltaram na rede feito peixes inocentes. E em que se possa ler, nas entre-escamas, todo o oceano percorrido. Os candidatos — aqueles que, ao lerem isto, se sentiram cronistas procurados — enviem mensagens engarrafadas para a Redação. Processo seletivo simplificado: NÃO ou SIM. Imediata admissão.

Comentários

Cláudia disse…
Crônicas domingueiras têm sabor de macarrão. Carne assada, caprichosa e longamente preparada à beira do fogão. De sobremesa gelatina colorida, pudim de leite condensado. Saudade das tardes de domingo dos tempos de criança, quando a gente se reunia ao redor da mesa do almoço e tudo parecia perfeito e eterno.
Domingo. Ingo, indo. O tempo passou, restam minhas crônicas que sorriem do presente ao mirar o passado.

Cláudia
"para substituir este envelhecido cronista..."
Sabe, Eduardo, coisas são substituídas, atividades rotineiras também. Mas a emoção, o carinho e o toque de magia, nunca!
Esse cronista do seu texto pode até cansar, mas ele é único no que faz, assim como todas as pessoas que agem com amor...
Beijo
Boa receita, Cláudia.

Marisa, insubstituível é você. :)
albir disse…
Edu,
não nos assuste.
Reclame, revolte-se, esbraveje e volte. Abraço.
Albir, você é um conselheiro de mão cheia. :)

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