TAN TAN TAN TAN >> Fernanda Pinho
Sempre me emocionei com a Marcha Nupcial. Aquele “tan, tan,
tan, tan” inicial me arrepia da cabeça ao dedão do pé em qualquer
circunstância. Até em casamento de novela. Não por um acaso, uma das primeiras
decisões que eu tomei assim que fiquei noiva foi a de que eu não abriria mão da
execução da Marcha Nupcial no meu casamento. Ok. Quem eu estou querendo
enganar? Sejamos francos, já que estamos entre amigos. Eu tomei essa decisão
muito antes de conhecer aquele que seria meu noivo e marido. Isso foi há
tempos, quando eu tinha, sei lá, cinco ou seis anos de idade.
Desde então, minha imaginação, romântica como poucas,
trabalhou em um milhão de cenas minhas entrando numa igreja. Nos meus delírios,
tinha me pai me levando ao altar, um buquê amarelo, minha mãe, minha irmã, meus
amigos me olhando caminhar sobre o tapete vermelho. E, claro, tinha a Marcha
Nupcial. A única coisa que não constava era o noivo, que sempre aparecia no meu
sonho como um espectro. Até eu conhecer a única pessoa que, de verdade,
despertou um mim o desejo de transformar o sonho em realidade.
E, vocês sabem, realizar sonhos emociona, a Marcha Nupcial
emociona, o amor emociona e, por tudo isso, meses antes do casamento, comecei a
desenvolver estratégias para não entrar na igreja vertendo litros de lágrimas e
perdendo toda a minha superfaturada maquiagem de noiva. Foi então que eu criei a modalidade de choro
pré-pago. Todo dia eu me imaginava entrando na igreja e chorava, como chorava.
Mas essa era a ideia. Chorar tudo o que eu tinha direito previamente, para não
ter tanta vontade na hora exata. Também decidi eleger um ponto fixo e olhar só
para ele. Estava claro para mim que eu
não poderia olhar para ninguém, porque as pessoas choram em casamentos e vê
alguém chorando para mim é convite a fazer o mesmo.
Só faltava decidir o que fazer com meus pensamentos. Aliás,
o que pensam as noivas a caminho do altar? O que eu pensaria naquele momento?
Pensaria nos outros casamentos em que estive presente e me emocionei
acreditando que, apesar dos meus sonhos, aquilo nunca me aconteceria? Pensaria
naqueles caras babacas pelos quais desenvolvi alguma paixonite e quase me
fizeram desacreditar no amor? Pensaria nas pessoas que estavam ali presentes e
nos momentos deliciosos e desastrosos que elas haviam dividido comigo? Pensaria
na minha história com aquele homem que me esperava no altar? Ou deixaria os
sentimentos de lado e simplesmente me preocuparia em caminhar com elegância e
tentar captar se as pessoas estavam ou não gostando do meu vestido?
Isso não havia como prever ou programar. Só havia um jeito:
respirar fundo e ir. Foi o que eu fiz, ao descer do carro e ir ao encontro do
meu pai que me esperava na escada da igreja. Nessa hora, quase duvidei da
eficiência do choro pré-pago. Ao me ver, os olhos do meu pai encheram de
lágrimas e seu queixo começou tremelicar. Apesar do nó que se formou na
garganta, consegui dizer: “não chora, pai”. Foi a última coisa que eu disse
antes de caminhar sobre o tapete vermelho, com meu pai de um lado, o buquê
amarelo de outro, minha mãe, minha irmã, meus familiares e amigos me
observando. Tudo como eu sonhei,
conforme pude ver nas fotos depois. Porque na hora, eu não vi nada nem ninguém.
Só ele. Ao contrário do sonho, na realidade ele foi a única imagem que eu
consegui visualizar. Também não ouvi nada, além do “tan, tan, tan, tan”, o tiro
de largada que acelerou meu coração. Sobre os pensamentos, não tive nenhum
daqueles que imaginei. Nem nenhum outro. Não vi, não ouvi, não pensei. Não sei
nem se caminhei. Acho que flutuei e senti, pela primeira vez na vida, uma
sensação de plenitude.
Comentários
PERFEITO!!! Bjooos
Muito interessante saber "o que se passa na cabeça da noiva"..adorei ler e te imaginar entrando na igreja; adorei tb saber que a Mara não vai conseguir não chorar, rsrs... Senão ela perderia sua essência, rsrs....
Beijos Fernanda!!!
As fotos de casamento captaram exatamente a minha alegria!!! rsrs
Bjs!!!