RETRATOS CRUÉIS DA LEITURA
>> Whisner Fraga
A crer nos resultados da terceira pesquisa do Ibope/Instituto Pró-Livro, Retratos da Leitura no Brasil, e não há motivo para não acreditar neles, o país do samba e do futebol vai muito mal no quesito cultura. Que nossos concidadãos leem pouco é senso comum, o tiozinho bebendo uma Brahma no bar da esquina já sabe. Mas ser esbofeteado com números, com provas, é outra história. 75% da população jamais estiveram em uma biblioteca. O brasileiro leu, em média, em 2011, 2 livros por ano, entrando nessa estatística as obras didáticas e as pessoas com cinco anos ou mais. Apenas metade de nosso povo lê. Isso depois de anos e anos sendo torpedeado cotidianamente com notícias de programas de incentivo à leitura. Na França, se leem sete livros ao ano, só para comparar.
Os livros mais citados na pesquisa foram a Bíblia, Ágape, A Cabana, Crepúsculo, Violetas na janela, nessa ordem. Paulo Coelho, nosso maior best seller, só aparece em décimo-terceiro. Ou seja: mesmo os que leem, leem mal. Entre as principais desculpas para fugir da leitura, são citados a falta de tempo, o desinteresse e a falta de paciência. 60% dos entrevistados que são leitores nunca ganharam um livro de presente. Dos leitores, 43% disseram que o que os levou a ler foi o exemplo da mãe. 87% dos não-leitores nunca viram os pais empunhando um livro.
Ora, o raciocínio é simples: podemos parar de jogar dinheiro fora, algo não está funcionando. Chega de incentivo a editoras, basta de orçamento para compra de obras pelo governo federal, fim de verbas para novas bibliotecas. Eu acredito que de nada adianta toda essa boa-vontade, se não foi transformada em resultado. São incentivos atrás de incentivos e ainda assim houve uma piora nos números, se compararmos os resultados de 2007 com os de 2011. O brasileiro não gosta de ler. O brasileiro aprendeu a gostar ainda menos de ler. Ponto final. Que pague o preço por sua ignorância. O país vai bem, cresce a astronômicos 3% ao ano, pagou sua dívida externa, tirou da miséria boa parte de sua população, é uma das maiores economias do mundo, importa tudo que precisa da China, então ler para quê? Primeiro e mais importante: o que tudo isso tem a ver com leitura?
Leitura é um desafio que os inconformados se impõem, a leitura é uma busca, daqueles que raciocinam, por respostas para suas inquietações, que vão além do óbvio e do senso comum. Para estes, o desejo de superar as limitações impostas pela preguiça é o que os leva rumo ao conhecimento, à cultura. A cultura é um negócio sagrado, pois nos provém de liberdade. A cultura não nos traz emprego, não nos traz dinheiro, não nos traz sequer a felicidade, mas nos traz, de maneira definitiva, decisiva, efetiva, a liberdade. Eu só considero livre aquele que consegue pensar além dos clichês, que pode, com a maravilha das sinapses que lhe foram concedidas gratuitamente, imaginar um argumento para qualquer paradoxo da vida. Que busca sua própria resposta para sua própria questão.
Não acho que o exemplo dos pais seja fundamental para que os filhos sejam leitores. Não penso que o esforço de um professor logre algum sucesso na formação de amantes dos livros, pois a influência externa é muito maior. A nossa sociedade, de um modo geral, abomina o trabalho que dá desvendar uma obra literária ou um jornal ou um artigo científico, e essa sociedade é onipresente, ela está espalhada por todo canto. De que adiantam duas horas diárias rodeadas por livros, se o restante do dia nossas crianças se veem rodeadas de imbecilidade? Sempre brinco com meus alunos que o Brasil é um fornecedor de matéria-prima para o mundo e essa matéria-prima não é inesgotável. Se Deus é brasileiro, talvez paguemos algum dia, com nossa água, o ônus da incompetência e da preguiça.
Para nós, escritores, é especialmente triste saber que temos poucos leitores, que nosso país, apesar de consumir bens de/em todos os cantos do mundo - que tampouco trazem a felicidade - é um país de escravos, que cedem facilmente a sua capacidade de raciocínio ao argumento do desinteresse. Termino com uma frase atribuída a Erasmo de Roterdã. Embora eu tenha dúvidas a respeito da autoria, acho bem interessante a citação: “Quando tenho algum dinheiro, compro livros. Se ainda me sobrar algum, compro roupas e comida.” Só me interesso por pessoas que pensem assim.
Os livros mais citados na pesquisa foram a Bíblia, Ágape, A Cabana, Crepúsculo, Violetas na janela, nessa ordem. Paulo Coelho, nosso maior best seller, só aparece em décimo-terceiro. Ou seja: mesmo os que leem, leem mal. Entre as principais desculpas para fugir da leitura, são citados a falta de tempo, o desinteresse e a falta de paciência. 60% dos entrevistados que são leitores nunca ganharam um livro de presente. Dos leitores, 43% disseram que o que os levou a ler foi o exemplo da mãe. 87% dos não-leitores nunca viram os pais empunhando um livro.
Ora, o raciocínio é simples: podemos parar de jogar dinheiro fora, algo não está funcionando. Chega de incentivo a editoras, basta de orçamento para compra de obras pelo governo federal, fim de verbas para novas bibliotecas. Eu acredito que de nada adianta toda essa boa-vontade, se não foi transformada em resultado. São incentivos atrás de incentivos e ainda assim houve uma piora nos números, se compararmos os resultados de 2007 com os de 2011. O brasileiro não gosta de ler. O brasileiro aprendeu a gostar ainda menos de ler. Ponto final. Que pague o preço por sua ignorância. O país vai bem, cresce a astronômicos 3% ao ano, pagou sua dívida externa, tirou da miséria boa parte de sua população, é uma das maiores economias do mundo, importa tudo que precisa da China, então ler para quê? Primeiro e mais importante: o que tudo isso tem a ver com leitura?
Leitura é um desafio que os inconformados se impõem, a leitura é uma busca, daqueles que raciocinam, por respostas para suas inquietações, que vão além do óbvio e do senso comum. Para estes, o desejo de superar as limitações impostas pela preguiça é o que os leva rumo ao conhecimento, à cultura. A cultura é um negócio sagrado, pois nos provém de liberdade. A cultura não nos traz emprego, não nos traz dinheiro, não nos traz sequer a felicidade, mas nos traz, de maneira definitiva, decisiva, efetiva, a liberdade. Eu só considero livre aquele que consegue pensar além dos clichês, que pode, com a maravilha das sinapses que lhe foram concedidas gratuitamente, imaginar um argumento para qualquer paradoxo da vida. Que busca sua própria resposta para sua própria questão.
Não acho que o exemplo dos pais seja fundamental para que os filhos sejam leitores. Não penso que o esforço de um professor logre algum sucesso na formação de amantes dos livros, pois a influência externa é muito maior. A nossa sociedade, de um modo geral, abomina o trabalho que dá desvendar uma obra literária ou um jornal ou um artigo científico, e essa sociedade é onipresente, ela está espalhada por todo canto. De que adiantam duas horas diárias rodeadas por livros, se o restante do dia nossas crianças se veem rodeadas de imbecilidade? Sempre brinco com meus alunos que o Brasil é um fornecedor de matéria-prima para o mundo e essa matéria-prima não é inesgotável. Se Deus é brasileiro, talvez paguemos algum dia, com nossa água, o ônus da incompetência e da preguiça.
Para nós, escritores, é especialmente triste saber que temos poucos leitores, que nosso país, apesar de consumir bens de/em todos os cantos do mundo - que tampouco trazem a felicidade - é um país de escravos, que cedem facilmente a sua capacidade de raciocínio ao argumento do desinteresse. Termino com uma frase atribuída a Erasmo de Roterdã. Embora eu tenha dúvidas a respeito da autoria, acho bem interessante a citação: “Quando tenho algum dinheiro, compro livros. Se ainda me sobrar algum, compro roupas e comida.” Só me interesso por pessoas que pensem assim.
Comentários
como sempre voce tem razão. Já ofereci livros a pessoas que não o aceitaram.
abraços,
enio.
Zoraya, eu acho que já estamos escrevendo apenas para escritores... Abraço!
belo texto.
Como leitora assídua e como mãe, ainda acredito que é possível disseminar o gosto pela leitura para aos que vieram depois de nós.
Não sei se não adiantaria que os pais lessem mais. A sociedade adulta é feita, em sua maioria, de pais e mães. Eu esperaria que isso tivesse sim, algum poder, ainda que pequeno - já que a imbecilidade realmente é forte concorrente...
Na dúvida, permanecerei tentando!
beijos.