DOCE DELEITE >> Fernanda Pinho
Eu sou o leite e você me pôs no fogo. Me aqueceu sem que eu pedisse. Me tirou do conforto da minha Tetra Pak. Me deixou em fogo baixo. Parecia não ter pressa. E não tinha mesmo. Seu prazer estava em ficar ali, vigilante, a me observar. Mas mesmo quando aquecido em fogo baixo, uma hora o leite atinge a fervura. É a lei natural da química. Ou seria da física? Não entendo nada disso. E também não entendo nada de você. Como compreender que depois de tanta vigilância você iria se dispersar justo quando fervi? E agora? Quem vai pagar o preço pelo leite derramado?
Sua única chance seria aceitar dividir essa conta comigo. Eu estou te dando essa chance. Uma chance e uma dica: cuidado para não perder o ponto. A linha entre o doce de leite e o leite azedo é tênue. E se eu azedar, alguém vai ter uma indigestão das brabas.
Foto: www.sxc.hu
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Comentários
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até mais
Sem palavras...uma de suas melhores crônicas! Como disse a Carla se vc consegue escrever bonito falando sobre leite, escreve bonito sobre qualquer coisa!
É lindo ver sua evolução como mulher, pessoa e escritora.
Orgulho, sempre!
beijos
a proposito, to adorando o livro "Cartas para meus amigos" :)
beeijos
E gostei mais ainda da crônica, sutil, muito sutil e bela!
Beijo
Beijos!!!