TATUAGEM [Anna Christina Saeta de Aguiar]
Tatuagens me causam um misto de espanto e incompreensão: fazer de livre e espontânea vontade um desenho no seu corpo que, por princípio, deverá existir para sempre? Engraçado. Estranho. Como assim? E se eu cansar dessa marca, dessas cores, desse modelo? Você pode tirar com laser, dizem eles. Sim, respondo eu, mas e se eu cansar disso já na semana que vem? Aí a incompreensão é deles: por que alguém faria uma tatuagem se fosse para não querer mais tê-la na semana que vem? Pois é. Por que? Agora sou a única irmã não tatuada, para alívio do meu pai.
Eu confesso que não consigo me imaginar fazendo uma tatuagem. Já brinquei muitas vezes com a possibilidade de desenhar uma borboletinha em algum lugar do corpo, mas nunca pensei em levar isso adiante. Fazer uma borboletinha no pulso e olhar para ela todo dia? Vou enjoar. Fazê-la, então, nas costas ou em algum lugar de difícil acesso? Mas para quê, se não vou poder vê-la? Enfim, a tatuagem é feita para mostrar ou para olhar? Uma tatuagem na parte de trás do ombro ou da panturrilha só serve para mostrar... ou não? Não sei. Aliás, já está claro que meu grau de compreensão do tema é menor que zero.
Não é que eu seja "contra" tatuagens... Algumas são até bonitinhas. Desagradam-me, no entanto, tatuagens grandes, daquelas que ocupam um membro inteiro. Ou tatuagens em locais em que a pele é delicada, como o pescoço. Escrever numa pele lisinha, ai. Que pena... Um dia, num barco em Parati, sentei atrás de uma moça que tinha as costas inteiras tatuadas. E os braços. E os pés. E parte das pernas. A impressão era de que estava vestida com uma camiseta estampada de revista em quadrinhos. Dragões, mocinhas, flores e borboletas, em cores vibrantes. Senti-me uma legítima representante do século passado ao pensar "puxa, uma moça tão bonita e estragou toda a pele desse jeito..."
Será que a minha incompreensão vem daí? Pois, se não sou daquela geração que considerava tatuagem uma coisa de gente pouco respeitável, sou do tempo em que bonito era ter a pele lisinha, sem marcas. O que, aliás, não é o meu caso. Tenho marcas espalhadas pelo corpo. Na canela, no antebraço, uma pequenina no rosto e uma verdadeira constelação delas na barriga,
resultado de duas cirurgias por video-laparoscopia. E dessas cicatrizes, no fundo, tenho até certo orgulho. Todas têm significado expressivo, e representam momentos difíceis de esquecer. Fico então com essas, e deixo as figurinhas coloridas apenas na imaginação.
Comentários
É estranho! Qdo aparece uma cicatrizinha na gente, reclamamos de Deus e do mundo... mas qdo é a gente mesmo que se deixa cicatrizar, fica todo serelepe e saltitante por aí, exibindo o desenhinho... estranhíssimo, eu diria...
Abraços o/