ELA [Anna Christina Saeta de Aguiar]
Ela, que queria tanto da vida. Ela, que queria porque acreditava que, de algum modo, as coisas chegam se você as quiser de verdade. E ela queria muito, queria tudo, queria de verdade. Queria amar - e isso não era difícil - e queria, principalmente, ser amada. Ela que sempre sonhou com o dia em que alguém olharia fundo nos seus olhos e diria, sem riso nem fuga, "eu te amo".
Ela, que tinha tantas esperanças e planos e motivações. Ela que viu em sonhos imensos as pequenas mãos do filho que teria. Ela que imaginava o choro de seu bebê, e até mesmo sentia o corpo miúdo e macio dele aconchegado em seu seio. Logo ela, que acreditava tanto no mérito da sobrevivência e no milagre da vida que todos os anos celebrava seu próprio aniversário com bolo, velas e risos.
Justo ela, que acreditava tanto na verdade. Ela que pensava não existir nada mais correto do que dizer a verdade, mesmo que a verdade pudesse causar algum desconforto. Porque ela realmente cria que a verdade liberta. Ela não tinha medo de chavões ou frases feitas. Ela apenas esperava ter outra verdade de volta quando oferecia a sua própria.
Ela que lia livros, via filmes e ouvia música, sorvendo cada nota, gesto e palavra delicadamente, recolhendo tudo o que parecia belo para guardar em algum lugar especial e muito íntimo. Ela que estudava e ensinava, que pedia e dava, que ouvia e falava, na esperança de que isso a ajudasse a construir a pessoa que seria um dia.
Pois foi ela que, numa manhã cinzenta, pegou aquela maldita lâmina. E pensou na vida que vivera até então e em tudo o que acreditava, esperava, planejava, queria. E percebeu, com perplexidade, que os dias eram curtos demais e que agora era tarde para receber um novo amor, ter um filho, ler um livro ou mesmo...
Ou mesmo continuar a querer, a acreditar, a esperar, a planejar.
E então ela não sentiu mais nada, nem mesmo a dor pelos riscos rubros e profundos desenhados pela lâmina.
Foi tudo muito suave.
E frio.
Tão frio que, quando entrei no quarto, naquela noite, encontrei-a enrodilhada, como se tivesse, no último momento, presenteado a si mesma com um abraço.
A mim, só deixou essas palavras, as poucas que usei para contar tudo que sei sobre ela.
E o silêncio.
Ela, que tinha tantas esperanças e planos e motivações. Ela que viu em sonhos imensos as pequenas mãos do filho que teria. Ela que imaginava o choro de seu bebê, e até mesmo sentia o corpo miúdo e macio dele aconchegado em seu seio. Logo ela, que acreditava tanto no mérito da sobrevivência e no milagre da vida que todos os anos celebrava seu próprio aniversário com bolo, velas e risos.
Justo ela, que acreditava tanto na verdade. Ela que pensava não existir nada mais correto do que dizer a verdade, mesmo que a verdade pudesse causar algum desconforto. Porque ela realmente cria que a verdade liberta. Ela não tinha medo de chavões ou frases feitas. Ela apenas esperava ter outra verdade de volta quando oferecia a sua própria.
Ela que lia livros, via filmes e ouvia música, sorvendo cada nota, gesto e palavra delicadamente, recolhendo tudo o que parecia belo para guardar em algum lugar especial e muito íntimo. Ela que estudava e ensinava, que pedia e dava, que ouvia e falava, na esperança de que isso a ajudasse a construir a pessoa que seria um dia.
Pois foi ela que, numa manhã cinzenta, pegou aquela maldita lâmina. E pensou na vida que vivera até então e em tudo o que acreditava, esperava, planejava, queria. E percebeu, com perplexidade, que os dias eram curtos demais e que agora era tarde para receber um novo amor, ter um filho, ler um livro ou mesmo...
Ou mesmo continuar a querer, a acreditar, a esperar, a planejar.
E então ela não sentiu mais nada, nem mesmo a dor pelos riscos rubros e profundos desenhados pela lâmina.
Foi tudo muito suave.
E frio.
Tão frio que, quando entrei no quarto, naquela noite, encontrei-a enrodilhada, como se tivesse, no último momento, presenteado a si mesma com um abraço.
A mim, só deixou essas palavras, as poucas que usei para contar tudo que sei sobre ela.
E o silêncio.
Comentários
Quando comecei a ler achei que ia ter o final mais feliz do mundo, estava até me identificando com a menina sonhadora e aí esse susto no final! Puxa, fiquei triste... Mas adorei "te ler", como sempre!
Beijo!
Beijo, moça.