RODOPIANDO E TECENDO >> Eduardo Loureiro Jr.

— Menina, não vá ficar presa na beleza que tece. Não faça mais isso.
Mas a menina que existiu um dia não sabia fazer nada além de rodopiar e tecer. E resolveu usar os próprios bichos em vez de seus fios. Aranhas e bichos-da-seda ficaram tontos em seu rodopio e, daquele exótico e encantador bordado, o grito silencioso de milhões de pequenas criaturas se espalhou até chegar aos ouvidos da mãe, que os devolveu a seus casulos e teias.
— Menina, não vá aprisionar os outros na beleza que tece. Já não lhe disse para não fazer mais isso?
Mas que poderia fazer, além de rodopiar e tecer, a menina que existiu um dia? Sem fios nem bichos, tratou de encontrar outro material. E em seu rodopio teceu um novo bordado ainda mais surpreendente. Era tanta a beleza que atraiu o olhar da mãe para aquele bordado de luz.
— Menina, você não tem jeito! E nisso sinto o cheiro do seu pai. Vamos, Terra, minha filha, tomar banho, jantar e dormir.
Mas, além de rodopiar e tecer, que poderia fazer a menina que existiu um dia?
E aquele um dia nunca parou de existir.
Comentários
É um poema esse texto... Muito belo...
Lembrou-me de Marina Colasanti, em "A Moça Tecelã". Vc conhece? Se não, depois te envio, pois vale ler.
Beijo grande.
Que nossos rodopios teçam bordados de luz e nossos "um dia" nunca parem de existir.
Adorei a crônica, Edu! É linda!
Beijo
this story makes us think about the great importance of the Earth to our lives..Thanks for the warning,
love
Renata