DINÂMICA DO AMOR INEXISTENTE >> Carla Dias >>
Bebe dele as desculpas esfarrapadas. Aceita dela as frequentes desfeitas.
Encontram-se na sala de estar para discutir pendências. Nunca foram bons com as verdades, tampouco com aquelas que se embrenham em sentimentos. Acontece de verbalizarem ofensas descabidas.
Há o quando se toleram e o quando assumem seus papeis de antagonistas.
Apreciam-se no silêncio, porque nele é admissível abrandar o outro. Amam-se à distância, que dessa forma é possível ignorar o que os irrita um no outro.
Permanecem juntos, cada um no seu abismo.
Soletram prioridades vazias. Decoraram frases com as quais se movimentam pela rotina. Há dias em que se encontram nas decisões compartilhadas. Outros, nas urgências tecidas pela vida.
Não que falte afeto. Não que falte respeito.
É que entre eles sempre esteve o vazio.
Apreciam profundamente a ausência um do outro. Seguem sendo quem não são em benefício de ninguém. Gastam vida na conexão que nunca tiveram.
Quase sempre, sentem saudade de quem nunca foram juntos.
Imagem: Cold Hand © Max Klinger
carladias.com
talhe.blogspot.com
Comentários
Dave, fico feliz que tenha gostado. Obrigada pela leitura e pelo comentário. Abraços.
Nada melhor de apreciar.
Abraços,
Enio
Ana, obrigada pela leitura. Fico feliz que tenha gostado e volte sempre que quiser. Beijo.
Enio, serei sempre grata pela sua leitura, assim como pela gentileza das suas palavras. Abraço.
Sergio, que bacana que o texto lhe tocou de forma tão profunda. Obrigada! Abraço.