BRASÍLIA>>Analu Faria
Nesta cidade, povoada por espaços vazios
e carros
Ninguém sabe se fazemos o que fazemos
por vocação
ou por tédio
A moça escreve uns poemas
Com dois mil adjetivos em cada estrofe
(Me dá sono no terceiro verso)
Um diabo criar ausências com enfeites
Todos aqui têm concreto nos olhos.
É tudo muito bonito,
não fosse a falta de gente na rua.
Parece até que um bruxo,
ou um daqueles anjos tortos, do Drummond,
esconde os vivos nas frestas por onde passam
as curvas de Niemeyer.
Nesta cidade de ideias grandes,
que difícil talhar no monumento
a simplicidade eficiente,
o aconchego sem muito dengo
o saber do caminho longo,
o alívio do sorriso aberto.
E dá-lhe drops de humanidade
nos viadutos:
"Mais amor, por favor".
(O coração da cidade, enfim, bombeia.
A seca de julho não nos mata este ano).
Comentários
Que sensível, Analu, essa sua de hoje!