HASTA LA VISTA >> Albir José Inácio da Silva

Não comento a copa porque não sei nada de futebol. Mas fiquei à vontade depois de ouvir por uma semana os especialistas tentando explicar a derrocada da seleção. Quase concluí que sabem tanto quanto eu. A própria Alemanha campeã parece nos dar a resposta — investimento nas equipes de base.

Mas a copa acontece vinte e quatro horas por dia, durante um mês, e o futebol apenas algumas horas. E não ia ter copa, nem aeroporto, nem estádio, nem hotel, nem segurança. E ia ser um fiasco, uma risadaria, e os gringos iam ter certeza de nossa incompetência para fazer qualquer coisa que não seja samba e futebol.

E a única coisa que salvava o Brasil nesta copa do mundo era o futebol porque somos pentacampeões, nascemos jogando futebol, e está no nosso sangue, no suingue, na malemolência do drible e do toque de bola.

E os gringos jamais conseguiriam isso porque são muito duros, não têm jogo de cintura, não aprendem futebol na várzea e no paralelepípedo e jogam um futebol burocrático e retranqueiro, sem beleza e arte.

E vieram os gringos e jogaram futebol, muito futebol, e cada partida foi mais emocionante que a outra, e as previsões foram pro espaço. Espanha, Itália e Brasil foram humilhados. E Espanha e Itália estão muito felizes de ter para onde voltar. Porque o Brasil teve de ficar aqui e nada poderá fazer além chorar e crucificar Fred e Felipão, com riscos de recaída no complexo de vira-latas.

Manchete do jornal de hoje informa que faltam setecentos e poucos dias para as Olimpíadas. Amanhã devem começar a dizer que não vai ter Olimpíadas. Depois das eleições, pode ser que se calem por algum tempo, mas dois mil e dezesseis é de novo ano eleitoral e as pragas e maldições recomeçam.

Mas, tirando o futebol, aeroportos funcionaram, estádios estavam prontos, hotéis receberam, e o povo abraçou os convidados. A imprensa internacional chamou de copa das copas e os jogadores das outras seleções declararam amor ao Brasil e prometeram voltar. Alguns turistas disseram, inclusive, que não iam mais embora.

Eufóricos estavam os hermanos, que chegaram ao Rio por terra, mar e ar. Tinha-se a impressão de que brotavam do chão e se reduplicavam, cantando em grupos, carreatas e ocupando todos os espaços. Nuvens azuis e brancas se moviam pela areia, pelas calçadas, restaurantes e supermercados, em número que talvez não coubesse em Buenos Aires.

Mas eram bem-vindos por todos, que se esforçavam em portunhol, o mais próximo de português que se ouvia no calçadão. Acho que, se os argentinos ganhassem da Alemanha, conquistariam sua segunda copa no Brasil. Porque da CopaCABANA já tinham tomado posse há um mês.

Os brasileiros gostaram da copa e dos estrangeiros. E vão gostar das olimpíadas. Alguns mais assombrados e bairristas, paranoicos em seu senso de propriedade e soberania, juram ter ouvido de alguns hermanos: — Bienvenidos,  brasileños!

Comentários

Que maravilha de texto, Albir! Você deveria nos oferecer mais desses textos em primeira pessoa.
Zoraya disse…
Puxa, vou copiar o Edu ipsis literis. Aliás, maravilha de texto vindo do Albir nao é novidade.
Anônimo disse…
Você tem um ponto de vista interessante sobre o assunto.

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