ALGUNS DE ALEXANDER PAYNE >> Carla Dias >>


Alexander Payne é um diretor que me agrada muito. Não somente um diretor, mas também um roteirista que me apetece. Para mim, As Confissões de Schmidt (About Schmidt/2002) e Sideways – Entre Umas e Outras (Sideways/2004) são filmes primorosos. Em Os Descendentes (The Descendantes/2011), ele exercita a delicadeza ao abordar a perda de uma pessoa em processo. Nos três filmes, Payne atuou como roteirista e diretor.

Sabe-se sobre Payne que ele é ótimo quando se trata da seleção dos atores, e eles o adoram. Talvez por isso ele consiga tirar o melhor daqueles que já fazem parte da seleta lista de artistas realmente talentosos. Quem não se lembra de Jack Nicholson em As Confissões de Schmidt? Se você não se lembra, é porque não assistiu ao filme. Por isso, eu o aconselho, veementemente, que o faça. Em Sideways, Paul Giamatti, um ator fantástico, consegue ir além do que já fizera em Anti-Herói Americano (American Splendor/2003), de Shari Springer Berman e Robert Pulcini. Em Os Descendentes, George Clooney aparece vestindo uma fragilidade rara nos personagens que costuma interpretar, o que faz toda a diferença para o filme.

Há algo que Payne faz com maestria: equilibrar o humor e o drama, naquela dose que todo ser humano experimenta. Seus filmes falam sobre pessoas comuns e os seus demônios, encontrando em um cenário árido as riquezas de ser o que somos: humanos. Nesse ponto, ele me lembra de outro grande diretor, por quem também tenho apreço, Robert Altman. Short Cuts – Cenas da Vida (Short Cuts/1993) é um filme revelador. E se você não se lembra da atendente de telessexo trabalhando em casa, atendendo a uma ligação, enquanto troca a fralda do bebê, esse é mais um filme para a lista “eu tenho de assistir e logo”.

Recentemente, assisti ao Nebraska (Nebraska/2013), filme dirigido por Payne, lançado em 2013. Woody Grant (Bruce Dern) é um idoso de Montana, que sofre de uma leve demência, e acredita que ganhou um milhão de dólares ao receber uma carta promocional de uma revista. A fim de reivindicar seu prêmio, ele decide ir a pé à cidade de Lincoln, em Nebraska, o que seria atravessar o país. Depois de várias tentativas, sempre interrompidas pelo filho, o mesmo decide levar o pai até a agência que enviou a correspondência. O que acontece durante a viagem é o que torna Nebraska de uma delicadeza ímpar. Dern é um ótimo ator, que faz com que Woody se torne um personagem interessante em todos os aspectos.

Nebraska é baseado em uma situação pela qual Bob Nelson, o roteirista do filme, passou com seu pai, assim como histórias que ele escutou sobre vários velhinhos que foram até a redação de uma famosa revista, nos anos 90, com as cartas promocionais que receberam, a fim de retirarem os seus prêmios.


Nelson criou um roteiro no qual se encontram personagens interessantíssimos, como a própria esposa de Woody, Kate, interpretada primorosamente por June Squibb. Minha curiosidade girava em torno da participação de Will Forte, um comediante de sucesso, interpretando David, filho de Woody, que tenta conhecer o pai, que ele julgou indiferente a ele, a vida toda, assim como a oferecer a ele alguma dignidade. Só que, durante a viagem, David descobre que o pai é um bom homem, capaz de grandes gestos de gentileza, mas que nunca foi de falar muito. Will Forte foi uma escolha acertada para o papel.

Nebraska - Bruce Dern e Alexander Payne
Um roteiro como o de Nelson não resultaria em um filme brilhante como Nebraska se não fosse o olhar de Payne, que teve de bater o pé para fazê-lo em preto e branco, o que se mostrou um detalhe fundamental para o filme. O diretor também sabe fazer cenas sem diálogos que dizem muito. Em Nebraska, ele abusa disso. Abusa, mas sem passar do ponto, e criando momentos geniais.

Nebraska - Bruce Dern, Will Forte e Alexander Payne
Para mim, Alexander Payne é um dos roteiristas e diretores que melhor sabem contar uma história simples, como é a vida da maioria de nós, trazendo à tona detalhes que a tornam admirável. Criar e dar sentido aos personagens como os que ele vem oferecendo aos espectadores é coisa de quem sabe que a vida é breve, mas pode ser bem divertida, apesar dos pesares.


Clique aqui para conferir Alexander Payne no IMDb.

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