A MEDIDA DO AMOR >> Sílvia Tibo



Sempre acreditei que “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”. E, seguindo esse lema, tenho procurado saborear intensamente os momentos em que a vida me concede a alegria e a graça de estar entre aqueles que mais amo. 

Nos últimos finais de semana, a vida resolveu ser generosa comigo, presenteando-me com a oportunidade de estar, ainda que por poucas horas, em companhia de pessoas queridas, com as quais, por motivos alheios à minha vontade, acabo convivendo pouco, mas que nem por isso deixam de ocupar a maior parte do meu coração. 

São avós, tios, primos. E filhos dos primos. E esposas e maridos dos primos. Tudo junto, misturado, em pacotinhos cuidadosamente elaborados, com lindas e boas doses de alegria, sorrisos, brincadeiras, gargalhadas, beijos e abraços apertados. 

Volta e meia, me pego imaginando como seria bom tê-los por mais tempo e mais perto.  Como quando éramos mais jovens e morávamos todos na mesma cidade. Época, aliás, em que muitos deles (os hoje menorzinhos) sequer haviam chegado. Eram ainda sonhos, projetos, que só viriam (e vieram) colorir nossas vidas alguns anos mais tarde. 

Desde que saí de casa, já há uns bons anos, passei tempos buscando meios de trazer ao menos parte dessas pessoas tão queridas pra perto de mim. Torcia, por exemplo, pra que meus pais tomassem gosto pela vida da cidade grande e se mudassem de vez para um cantinho aqui nas minhas imediações. Pensava que a vida era curta e que não bastava “amar as pessoas como se não houvesse amanhã”. Era preciso, também, estar perto delas. 

Quão ingênua eu era. E egoísta também. 

Pra mim, nessa época, amor era sinônimo de contato físico, de proximidade de corpos. Queria e precisava desses corpos amados bem ali, juntinho de mim. Imatura e ansiosa, mal sabia que o que mais interessa nessa história toda é a proximidade de corações. E os laços invisíveis (mas intensos e verdadeiros) que existem entre eles. 

Parafraseando Carla Dias, assim que minha mãe “se foi”, senti que o amor ganhou outra e nova conotação em minha vida. Há tempos não a vejo, não sinto sua pele, seu cheirinho, nem ouço sua voz, sempre doce. Mas o fato é que a amo cada vez mais.  Amo-a com os defeitos e as qualidades que tinha. E não só pelo que foi ou fez, mas pelo que é e representa agora na minha vida.  Justo eu, que acreditava já tê-la amado no maior nível possível e imaginável. 

Que boba eu fui. Não sabia que a medida do amor é a mesma da saudade. E que se o peso da ausência física não se desfaz com o passar do tempo, ao menos se ameniza através das boas recordações. 

Entre esses pesos e medidas, no final das contas, o que são alguns quilômetros ou horas de voo, carro ou avião? Ou o que é (até mesmo) a tênue linha existente entre a vida e a morte? 

A verdade, lá no fundo, é que distâncias e separações momentâneas de corpos físicos nada (ou pouco) significam para corações e espíritos que se sentem e se veem eternamente emaranhados, na lembrança das alegrias compartilhadas e na expectativa dos futuros reencontros. 

Comentários

whisner disse…
Bela crônica. Minha mãe sempre disse que educava os filhos para o mundo. Mas é mais do que isso: todos são educados para o mundo e assim sobrevivem, apesar da saudade. Abraços!
Leonardo disse…
Sua história é a minha também...
Parabéns pelo texto!
Beijos,

Léo
Anônimo disse…
Linda crônica Silvia.

Acho que um dos maiores legados que os nossos pais podem ensinar aos seus filhos, é que podemos ir em frente sem eles...


Leticia
Zoraya disse…
Silvia, você tem uma maneira suave e profunda de tocar sentimentos tão delicados quanto a saída das Mães do plano terreno, do afastamento dos amigos e parentes por conta da vida e nos fazer ver esses fatos de uma outra maneira, muito mais verdadeira e gentil. Como sempre, linda crônica, obrigada. Beijos
Karoline disse…
Que bom ler e saber que, pra você não é preciso estar em contato físico para amar. A distância entre você e sua mãe neste mundo prova isso!
Um grande bj!
Juraci disse…
Parabéns, filhota!!
Fiquei muito emocionado com seu lindo texto, brotado do seu coração e pincelado com seu talento.
Bjin.
Pai
albir disse…
Obrigado, Sílvia, por me ajudar a entender o que sinto.
Unknown disse…
Caro Whisner,
Obrigada pela leitura...
É isso, você resumiu bem. Somos todos criaturas do mundo. E estamos todos de passagem, não é?
O importante nesse caminho que apelidamos de vida é o amor que damos e recebemos, ainda que a presença física seja impossível ou inviável.
Grande abraço!
Unknown disse…
Filhote querido!
Nossas histórias realmente se misturam... e agradeço sempre à Vida por isso... por fazermos parte do mesmo mundo, por compartilharmos as mesmas lembranças, os mesmos amores... e também a eterna saudade.
Beijo grande, meu lindo...
Unknown disse…
Oi Letícia!
Agradeço pelo comentário, pela visita ao Crônica do Dia...
Essa é uma lição que aprendemos de nossos genitores e que precisamos transmitir também aos nossos filhotes, não é?
Beijo grande!
Unknown disse…
Zoraya, querida!
Um dia quero e espero, de todo o coração, ultrapassar as barreiras desse mundo virtual (que, ao mesmo tempo,nos aproxima e nos isola) e conhecê-la pessoalmente...
Enquanto isso não acontece, tenho a dizer que você, sim, é uma pessoa linda, doce e gentil...
Obrigada pelo carinho de sempre!
Unknown disse…
Karolzinha...
A nossa amizade (antiga e eterna) também é prova de que mais valem os laços dos corações que se amam do que o contato físico, né?
Obrigada, meu bem!
Beijinhos...
Unknown disse…
Pai!
Obrigada...
Pela visita, pela leitura, pelo comentário carinhoso...
Nossas histórias também se misturam, né? E nossos corações estão também entrelaçados, a despeito dos quilômetros de estrada que em certas ocasiões nos separam. Mas que, felizmente, têm se encurtado nos últimos tempos.
Grande beijo!
Unknown disse…
Albir...
Saiba que eu também sinto!
E sou eu quem agradece a gentileza e o carinho de sempre...
Anônimo disse…
Amor não é uma coisa que fura,rasga e destrói o coração apenas é um sentimento...
michele machado disse…
caro leitor essa é a questão,pequenos e grandes reencontros fazem de nossa vida um rascunho, pois eu já amei em constante pedaço da minha pouca vida. sem ser correspondida então se você gosta de uma pessoa ou amigo abra-se pra ele ou ela.seja o que você é realmente
Michele machado disse…
caro Whisner,certa vez a distancia pode nos privar; estou ha muito tempo sem ver uma pessoa muito querida, mas nem por isso eu me privo dos privilégios da vida...eu sei respeitar a distancia,porem a voz do coração fala mais alto. minha mãe sempre me dizia sacode a poeira e da a volta por cima, e com isso eu na minha vida aprendi.. esse e meu agradecimento
Unknown disse…
Leio e releio... E não consigo encontrar meio de definir melhor o amor... O amor que fica... A saudade... Você é brilhante, perspicaz, verdadeira. Por isso, leio e releio estas palavras que penetram em minha alma...

Postagens mais visitadas