UM SERIAL KILLER EM MINHA VIDA
>> Carla Dias >>
Dexter é um serial killer. Dexter é um serial killer pelo qual as mocinhas se apaixonam. Os mocinhos, esses queriam ter a visão direta de psicopata do Dexter, mas sem a coisa do serial killer de série de televisão pelo qual as mocinhas suspiram ou o emprego de especialista forense em amostras de sangue do departamento de polícia de Miami. Eles querem apenas aprender a aplicar a objetividade de Dexter, o serial killer com código de honra incutido nele pelo pai adotivo que percebeu, logo cedo, quem o filho era, e o ensinou que já que não havia como evitar o desenrolar da história, melhor que Dexter aprendesse a matar somente assassinos quer a polícia não consegue prender.
Entendido? Dexter é um serial killer.
A primeira vez que tentei assistir à série Dexter, não consegui passar de meia hora do episódio. Fiquei extremamente incomodada com a simpatia imediata que senti pelo personagem interpretado por Michael C. Hall, ótimo ator que eu já conhecia de outra série bem peculiar, a Six Feet Under. Achei o cúmulo a possibilidade de torcer por ele, de alguma forma, afinal, serial killer é serial killer, certo?
Quando a série já estava na sua quarta temporada – atualmente, ela está na sétima -, um amigo insistiu para que eu desse uma chance ao Dexter Morgan. Ele panfletou tão bem que foi inevitável. Aluguei a temporada e, como acontece quando a série me pega de jeito, dormi pouquíssimo nos dias seguintes.
Foi assim que um serial killer entrou na minha vida.
Dexter é uma série muito elogiada por mérito. A forma como os roteiristas conduzem a trama é das mais ousadas. Não há limites sobre aonde o serial killer será levado, mas há coerência, e isso é o que a torna tão sedutora. Os temas da temporada levam o personagem central a encarar conflitos cada vez mais complicados, fazendo com que ele tenha de se esforçar, e muito, para equilibrar a realidade do homem que as pessoas enxergam e daquele que somente ele conhece.
Os personagens que colaboram com a história são muito bem construídos, como Debra Morgan (Jennifer Carpenter), irmã de Dexter que, eventualmente, se torna a chefe dele no departamento de polícia. Além de ser das personagens femininas mais boca suja que a tevê já teve, a relação deles é muito complexa e curiosa, e se tornou um tanto insana na temporada atual, o que só melhorou a cadência da série.
Frequentemente, Dexter, por ser um psicopata, consegue ser extremamente lógico a respeito de assuntos que tratamos com a emoção no talo, e alguns desses momentos são brilhantes. Isso também se deve ao fato de escutarmos a voz interior do serial killer o tempo todo, quando ele não está de papo com o pai morto, maneira que Dexter encontrou para analisar as ganas de seu passageiro sombrio, que divide a existência do moço com o profissional, o pai, o irmão, o filho, o amigo...
O próprio marketing da série é feito sobre a dúvida se Dexter é uma boa pessoa ou não. O código de honra e o esforço que ele faz para não dar pistas sobre a existência do seu lado B, ou melhor, do seu passageiro sombrio, ajudam a mantê-lo no hall dos mocinhos. Porém, quando se trata de localizar e executar suas vítimas, bom, o serial killer dá as caras. Sendo assim, não consigo dar fim à dúvida marqueteira: “eu sou uma pessoa fazendo coisas ruins ou sou uma má pessoa fazendo coisas boas?”.
Dexter é baseada no livro de Darkly Dreaming Dexter, de Lindsay Jeff. A sétima temporada de série está prevista para estrear no Brasil em 2013, no canal FX.
Imagens: divulgação.
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