“ALÉM DO HORIZONTE... [Maria Rita Lemos]

,,, deve ter um lugar bonito pra viver em paz” - diz a canção do Roberto Carlos, tão bela quanto antiga. Não só gosto muito da música, como concordo inteiramente com o autor. A vida moderna, agitada e tensa, faz com que sejamos diariamente bombardeados, além de nossos próprios conflitos inevitáveis, com notícias de crimes e violências que nos levam ao temor e à ansiedade pelo futuro.

Os consultórios médicos estão lotados de gente que gasta fortunas com calmantes, antidepressivos, analgésicos e outros fármacos. A maioria das pessoas, no mundo atual, vive estressada, sem notar que, bem pertinho delas, há certamente um lugar de paz e tranqüilidade.

Algumas vezes, experimentamos esse gosto maravilhoso de Paz quando paramos por alguns instantes, na correria diária, para integrar-nos à natureza. Isso pode acontecer no contato com o verde de um bosque, numa estrada florida, numa caminhada à beira mar, ou mesmo em nosso trajeto habitual para o trabalho. Basta apenas que estejamos atentos e prontos para parar um pouquinho com o zumbido de atividades a serem feitas e prestarmos atenção ao céu, às flores, aos animais e pássaros que cruzam nosso caminho todos os dias, mas que não vemos nem ouvimos. São momentos em que simplesmente desfrutamos a vida, como quem vagarosamente saboreia uma laranja, sem tentar analisá-la ou explicar o prazer que ela causa.

Esse mergulho para dentro de nós mesmos, no contato com a Mãe Natureza, no silêncio interior, talvez valha mais que os programas que nos são diariamente oferecidos pela mídia, como forma de redução do estresse. Um único pensamento negativo é suficiente para nos tirar a tranqüilidade mental. Assim, mesmo que estejamos num paraíso ecológico, se não estivermos perfeitamente integrados e relaxados, continuaremos preocupados e tensos. Da mesma forma, com algum treino, é possível levar a imaginação até a paz de uma praia deserta, mesmo no meio da correria e agitação.

Felizmente, um número cada vez maior de pessoas, atualmente, está acordando para essa realidade e voltando-se para um estilo de vida mais saudável, onde não há tanto espaço para o consumo desenfreado nem para a devastação dos recursos naturais. Gente que faz exercícios físicos sem ansiedade nem esforço, sem “ter que ficar malhado”, obedecendo apenas ao próprio ritmo; pessoas que brincam na água e secam o corpo ao sol... gente que caminha por prazer e com prazer, sem controlar tempo, distância, ou número de passos, competindo consigo mesmo, além de toda a competição que a vida diária nos obriga a ter.

Há pessoas aprendendo a aquietar suas mentes, mergulhando naquele cantinho que todos temos, dentro de nós - basta procurar. Quando for impossível estar numa praia ou num bosque, e a pressa e agitação estiverem insuportáveis, transporte-se mentalmente para o seu local de refúgio. Pode ser simplesmente uma rede na varanda, na casa que você morou quando criança; pode ser a sombra de uma mangueira, no sítio da vovó... enfim, você é quem vai escolher o seu lugar de repouso. Ele está esperando por você, em sua imaginação, sempre que a pressão do dia a dia estiver insuportável. Nesses momentos de transporte para “nosso lugar de paz”, há que lembrar que a vida é um dom, um presente, um doce a ser saboreado prazerosamente. Ou um fel amargo, insípido e inodoro, que nos compete mascar até o fim, sem prazer algum, a escolha é nossa.

 De minha parte, meu lugar de paz talvez nem exista mais, desde que a Fazenda foi arrendada a uma empresa de citricultura, há muitos anos. No entanto, continua sendo o refúgio para onde vou quando minha vida se mostra dura e amarga: é lá, na represa da Fazenda Água Bonita, e no caminho de terra que a ligava à casa sede, onde minhas filhas, meu filho e eu adorávamos estar aos finais de semana, e onde minha irmã estava sempre à nossa espera, com uma refeição gostosa, muitos risos e palavras de carinho.

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