CADA ESQUINA, UMA HISTÓRIA >> Fernanda Pinho

Sempre que vamos ao supermercado passamos por uma rua chamada Armando Jaramillo. Eu já tinha observado o fato algumas vezes porque tenho particular apreço por ler nomes, embora não utilize essa informação para nada útil (se você me perguntar onde fica tal rua eu saberei que conheço esse nome mas dificilmente poderei localizá-la). Meu interesse é por nomes, não por endereços. Gosto de ler as plaquinhas dos logradouros e imaginar quem será que foi aquela pessoa digna de tamanha honraria.

Mas, pegando um retorno e voltando à rua Armando Jaramillo, aconteceu que um dia veio um amigo que eu não conhecia para o jantar. Seu nome? Armando Jaramillo. Fiquei empolgadíssima, seria ele o “dono da rua”? Não exatamente. Seu pai e seu avô também eram Armando Jaramillo e este último foi quem recebeu a homenagem de dar nome a uma charmosa rua de Santiago. Animado pelo meu interesse, o convidado – que, por sinal, vive na tal rua – tratou de me contar todos os feitos do seu avô na política chilena.

Foi a primeira vez que eu tive a oportunidade de ouvir de uma fonte oficial a história de um desses homens e mulheres que dão nomes às ruas. Normalmente, fico só na curiosidade e imaginação. Pelo nome, gosto de imaginar quem teria sido aquela pessoa. Sua profissão, sua personalidade e seu feito para receber tal deferência (naturalmente não estou falando dos casos nos quais eu já sei de quem se trata as pessoas. Ruas Getúlio Vargas, Tom Jobim, Santos Dumont e outros ilustres não despertam meu interesse).

Minha antiga rua em Belo Horizonte chama-se Carmelita Índia do Brasil. Não tenho a menor ideia de quem tenha sido essa senhora, mas gosto de pensar em alguém com nome autoexplicativo. Uma freira, obviamente, pertencente à Congregação das Irmãs Carmelitas, que dedicou sua vida a cuidar do povo indígena em algum lugar do Brasil. Já velhinha, recolheu-se nesse bairro onde hoje tem sua rua e encerrou sua missão praticando obras sociais na comunidade. Não consigo visualizar como ela seria, mas suponho que tenha uma mão superbranquinha, como se lavasse com água sanitária todos os dias. Toda freira que conheci tem as mãos assim.

Hoje vivo na Ricardo Lyon. Um rei, é claro. Tudo bem, aqui no Chile não teve reis. Mas talvez isso tenha a ver com a estreita relação de amizade entre Chile e Inglaterra. Existe uma estreita relação de amizade entre Chile e Inglaterra? Não sei informar, mas eu gosto de pensar assim. “Ricardo” e “Lyon” não tiram a Inglaterra da minha cabeça. Alguns Ricardos foram reis na Inglaterra, Inglaterra de Shakespeare, Shakespeare de Hamlet, Hamlet que inspirou qual produção da Disney? O Rei Leão. The King Lion. E de Lion para Lyon, foi só um erro do escrivão. Ricardo Lyon foi rei e não se fala mais nisso.

Talvez ele tenha conhecido Isidora Goyenechea, que dá nome a outra rua do meu bairro. Nem o fato supracitado de que por aqui não teve império tira da minha cabeça que ela tenha sido uma imperatriz rechonchuda, de bochechas rosadas, que todos os dias desfilava uma peruca de cor diferente e enlouquecia seus servos para atendê-la em hábitos alimentares excêntricos. Ela tinha uma filha, com quem nunca dividiu nenhum tipo de afeto, apenas a alcunha: Isidorita, que dá nome a outra rua da região.

História, apenas histórias que tornam meus caminhos mais interessantes e, claro, me impedem de desenvolver um apurado senso de direção. Não registro nomes de ruas, registro personagens. Ainda que de histórias que só existem na minha cabeça. E se você sabe quem foi Carmelita Índia do Brasil, Ricardo Lyon ou Isidora Goyenechea, por favor, tenha a gentileza de não me contar.

viveremportunhol.blogspot.com

Comentários

Léia disse…
Fernanda vc esqueceu que aqui em BH tem uma pequena rua com o nome de seu avó José Gonçalves Barbosa KKKKK

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