BOA COMPANHIA >> Fernanda Pinho
Um dia desses uma amiga desabafava comigo dizendo que, cada
vez mais, tem gostado - e mais que gostado, preferido - sair para se divertir
sozinha, em vez de acompanhada. Ela se sentia estranha por isso, e me
perguntava o que eu achava. O que eu acho é: se ela é estranha, eu também sou.
Por não gostar de depender de ninguém, por ter meu próprio
ritmo acelerado, por trabalhar em casa, por ter estado muito tempo solteira, eu
me habituei a fazer muitas coisas sozinhas. E, assim como para minha amiga, o
hábito se tornou preferência em determinadas situações.
Trabalhar sozinha, por exemplo. Claro que estou o tempo todo
conectada com as pessoas que trabalham virtualmente comigo mas, fisicamente,
estou sempre só. E acho uma maravilha. Nada me desconcentra, otimizo meu tempo
pois não tenho com quem jogar conversa fora e não preciso dar explicações a
ninguém sobre a desordem dos meus materiais de trabalho. Na minha bagunça
silenciosa me encontro. E só a mim. Já nem sei mais se consigo produzir de
outra forma.
Nem malhar. Malhar só funciona se eu estiver sozinha ou
acompanhada de desconhecidos, o que, para mim, é o mesmo que estar só. Porque
malhação só existe com música e música me exige demasiada concentração. Viajo,
crio histórias. visito o passado e o futuro, a depender da trilha sonora. Quando
estou embalada pela música sou incapaz de dar ouvidos a alguém.
O mesmo acontece com os filmes, o que me faz ter particular
predileção pelas sessões de cinema na minha própria companhia. Adora a
liberdade de poder gargalhar e chorar sem nenhum constrangimento. De poder
ficar cinco minutos num silêncio embasbacado depois de um final de filme
chocante. De poder comer toda a pipoca ainda no trailer, sem parecer mal
educada aos olhos de ninguém.
E a essa listinha somam-se outros pequenos prazeres
individuais: fazer compras, almoçar, me locomover de um local ao outro, fazer
qualquer tipo de arrumação. Tarefas que me fizeram descobrir em mim uma ótima
companhia. E só depois dessa descoberta, só depois de entender que o bem que eu
me fazia ninguém mais poderia me fazer, é que encontrei em mim também uma ótima
companhia para oferecer a outra pessoa.
Outra pessoa com quem, hoje, eu tenho o prazer de dividir
absolutamente tudo. Sem neuras, preocupações ou constrangimentos. Posso
gargalhar, chorar, fazer minhas bagunças ou ficar 40 minutos em silêncio. Está
tudo bem. Como se ele fosse eu. Ou como se eu fosse ele. Já nem sei.
Comentários
Eu tambem adoro fazer as coisas sozinhas, e amaria poder trabalhar sozinha. Faxina por exemplo, eu AMO fazer sozinha. Também prefiro dirigir sozinha, adoro comer sozinha, e também ver filmes em minha companhia!
E hoje em dia adoro dividir isso com meu amoreco, e sempre te disse que essa pessoa também apareceria, e que vc amaria fazer tudo com ele! E assim foi, e assim é, e assim será!