AMOR E NEGÓCIOS >> Albir José Inácio da Silva
Tito daria um ótimo empresário não fosse o coração. Não que tivesse um coração doente, é que bom coração também atrapalha os negócios.
Na infância já lhe doía no couro a generosidade. Parte das balas e doces que vendia acabava por matar a fome sua e dos amigos. As contas não fechavam e no final do dia recebia nas costas a paga de sua bondade sob a forma de varas e cintos na mão da tia.
Mas dos amigos que alimentava também recebia ingratidão, furtos e pontapés. Não se emendava, e no dia seguinte distribuía de novo os doces, sorrisos e abraços, como se a vida dura não tivesse o condão de fazer egoístas. Claro que assim não lhe prosperavam os negócios nem melhorava a vida.
Com o fim da adolescência sonhou negócios maiores. Por essa época herdou Natacha de um gigolô amigo que morreu assassinado. Fez planos para a mulatinha mas seu coração de novo interferiu. Apaixonou-se por ela, que por isso não lhe rendeu um tostão, rendeu despesas, embora não tivesse qualquer ambição — bastava-lhe o amor de Tito.
Com braços fortes e bom coração, Tito não fugia do trabalho, mas faltava-lhe malícia pra lidar com puxa-sacos, delatores e demais espertos no submundo da sobrevivência.
Assim mesmo, por influência de amigos, ingressou no comércio das drogas não autorizadas. O pessoal do movimento gostava porque ele não cheirava nem fumava. Isso até descobrirem que Tito desencorajava alguns clientes por serem pais de família, porque estavam doentes ou porque aquele era o dinheiro da comida. Quase foi pra vala e acabou expulso do morro, proscrito mas vivo.
Tentou ainda o negócio dos milagres. Ali não faria mal a ninguém. Dava conselhos, distribuía toalhinhas, rosas e outras bênçãos, com sorriso e paciência. Seus superiores só não gostaram quando ele devolveu a oferta de uma velhinha, dizendo-lhe que comprasse os remédios, fizesse dieta e orasse em casa mesmo. Dali também conseguiu fugir após dolorosas sessões de exorcismo.
Tito abandonou de vez as atividades empresariais. Faltava-lhe ambição. Não precisava mesmo de dinheiro e Natacha só queria o seu amor. Ficou morando definitivamente na rua. Integrou-se na comunidade das praças e calçadas, ajudava, carregava as tralhas mais pesadas. Não lhe faltava coragem nem braços fortes. Defendeu violentados e recebeu ameaças que não eram para ele, eram ódio contra a sua gente empoeirada.
E na madrugada do dia em que mais uma vez tomou as dores de um companheiro sem braço, não lhe perdoaram a ousadia. Amanheceu queimado, abraçando ainda o que tinha sido a sua Natacha. Natacha para quem bastava o amor.
Na infância já lhe doía no couro a generosidade. Parte das balas e doces que vendia acabava por matar a fome sua e dos amigos. As contas não fechavam e no final do dia recebia nas costas a paga de sua bondade sob a forma de varas e cintos na mão da tia.
Mas dos amigos que alimentava também recebia ingratidão, furtos e pontapés. Não se emendava, e no dia seguinte distribuía de novo os doces, sorrisos e abraços, como se a vida dura não tivesse o condão de fazer egoístas. Claro que assim não lhe prosperavam os negócios nem melhorava a vida.
Com o fim da adolescência sonhou negócios maiores. Por essa época herdou Natacha de um gigolô amigo que morreu assassinado. Fez planos para a mulatinha mas seu coração de novo interferiu. Apaixonou-se por ela, que por isso não lhe rendeu um tostão, rendeu despesas, embora não tivesse qualquer ambição — bastava-lhe o amor de Tito.
Com braços fortes e bom coração, Tito não fugia do trabalho, mas faltava-lhe malícia pra lidar com puxa-sacos, delatores e demais espertos no submundo da sobrevivência.
Assim mesmo, por influência de amigos, ingressou no comércio das drogas não autorizadas. O pessoal do movimento gostava porque ele não cheirava nem fumava. Isso até descobrirem que Tito desencorajava alguns clientes por serem pais de família, porque estavam doentes ou porque aquele era o dinheiro da comida. Quase foi pra vala e acabou expulso do morro, proscrito mas vivo.
Tentou ainda o negócio dos milagres. Ali não faria mal a ninguém. Dava conselhos, distribuía toalhinhas, rosas e outras bênçãos, com sorriso e paciência. Seus superiores só não gostaram quando ele devolveu a oferta de uma velhinha, dizendo-lhe que comprasse os remédios, fizesse dieta e orasse em casa mesmo. Dali também conseguiu fugir após dolorosas sessões de exorcismo.
Tito abandonou de vez as atividades empresariais. Faltava-lhe ambição. Não precisava mesmo de dinheiro e Natacha só queria o seu amor. Ficou morando definitivamente na rua. Integrou-se na comunidade das praças e calçadas, ajudava, carregava as tralhas mais pesadas. Não lhe faltava coragem nem braços fortes. Defendeu violentados e recebeu ameaças que não eram para ele, eram ódio contra a sua gente empoeirada.
E na madrugada do dia em que mais uma vez tomou as dores de um companheiro sem braço, não lhe perdoaram a ousadia. Amanheceu queimado, abraçando ainda o que tinha sido a sua Natacha. Natacha para quem bastava o amor.
Comentários
Sua arte tem poesia, doçura, suavidade, tristeza e a realidade nem sei o que tem, acho que nem nunca vamos saber...
A sua informação é verídica e lamentável.
tem razão, acho que nunca vamos saber. Beijo.
Solom,
obrigado pela generosidade de sempre.
Edu,
dá filme quando você for também cineasta.
Laísa,
obrigado, volte sempre!
Carla,
obrigado. Bacana é sua presença. Beijo.
Zoraya,
muito lisonjeira sua comparação.
Beijo.