O DOCE SABOR DA DERROTA >> Albir José Inácio da Silva

Sou um perdedor de eleições. Mesmo sem nunca ter me candidatado, vivo apanhando das urnas. Com raras e importantes exceções, meus candidatos sempre naufragam. Tenho amargado muitos “day after” eleitorais.

Quando não nos era permitido votar, acompanhei muitas vezes as votações do nefando “colégio eleitoral”, sentindo antecipadamente o sabor da derrota, já que sabíamos que o general da vez seria eleito.

Restabelecido o direito ao voto, as forças conservadoras têm imposto, principalmente nas eleições locais, uma política que impede o desenvolvimento, mantendo este país pelo menos 20 anos atrás de nações que, miseráveis até o fim do século passado, deram um alto em direção ao futuro.

Cada derrota das forças progressivas significa 4 anos de manutenção do “status quo”. E quatro anos é muito tempo, se considerarmos que a vida não tem assim tantas vezes quatro.

Mas, passadas a frustração e a ressaca, como canta Milton Nascimento, renova-se a esperança. Esperança de avanço, que nem chega a ser esperança de mudança. A história tem seu próprio ritmo que não coincide com a nossa existência curta e urgente.

Da derrota se inferem dois precedentes: primeiro que tenha havido jogo e, segundo, que tenhamos participado dele. Os que não podemos comemorar a vitória, comemoremos o jogo.

Mesmo você, jovem eleitor, que nunca sentiu o gosto amargo da falta de eleições, comemore a frustração da derrota, na certeza de que foi reconhecida sua cidadania e preservada sua dignidade. Queira sempre mais, sabendo reconhecer a importância do que foi conquistado naqueles dias cinzentos em que não se podia enxergar nem mesmo a esperança.

Comentários

Oi, Albir! Bom te ler e te comentar novamente! Eu moro em uma cidade extremamente conservadora e que elege sempre o título da crônica da Cláudia logo ali: "Mais dos mesmos". Isso tem uma vantagem, estou envelhecendo e conservando um toque revolucionário, porém, perdendo seguidas eleições.:)
Unknown disse…
Albir querido,
Compactuo da sua sensação de derrota e tambem concordo que o negócio é ter jogo, como você bem lembrou, porque a gente nem isso tinha. Perdendo, seguimos cantando, porque quem canta seus males espanta, rs

Vivendo e aprendendo a jogar
Nem sempre ganhando
Nem sempre perdendo, mas...
Aprendendo a jogar!

beijo grande!
Depois que "perdi" aquela presidencial de 1989, o resto tem sido fichinha. Lembro que, na época, preguei o seguinte cartaz na porta do meu quarto: "Quem perdeu o trem da história, por querer, saiu do juízo sem saber, foi mais um covarde a se esconder diante do novo mundo."

Mas é isso mesmo: cada qual no seu tempo. :)

Postagens mais visitadas