ABOUT US FESTIVAL >> Carla Dias >>

Sustentabilidade é um termo que envolve muitas necessidades. Do educar-se para compreendê-lo ao dedicar-se para colocá-lo em prática, há um trabalho árduo a ser feito e uma barreira a ser derrubada: sustentabilidade não é conceito e dever somente de ecologistas ou eco-engajados. Não pode ser encarado como algo com o qual somente os interessados devem lidar. Sustentabilidade pede de cada um de nós a atenção e o preparo para lidar com sua proposta. É aquele ponto onde todos nós devemos estar atentos para que, dentro do universo de cada um, sejam feitas as ações necessárias para que o planeta sobreviva. Mas não se iludam... Quem não sobrevive sem o planeta somos nós, e não o contrário. Se não restar recursos naturais, se não aprendermos a evoluir com responsabilidade, acabaremos, se não antes, juntinho com o planeta terra.

Então, podemos começar compreendendo melhor o que vem a ser sustentabilidade. Eu, assim como vocês, estou aprendendo a respeito sobre esse conceito que, apesar de parecer ter nascido na geração Ipod, é resultado do que vem sendo feito pelo homem ao planeta, desde sempre.

No domingo, dia 28 de setembro, aconteceu, aqui em São Paulo, o festival About Us. No dia 26 de setembro o festival passou por Manaus. De acordo com os idealizadores do projeto, o festival tinha como objetivo abordar o tema sustentabilidade e demonstrar formas de praticá-la, utilizando como chamariz a música. Ter a música como cenário para assuntos de cunho ecológico e social é uma prática de sucesso. Projetos pipocam pelo mundo, numa tentativa de conscientizar o maior número de pessoas sobre a sustentabilidade, principalmente no que se refere ao lixo gerado por nós e que criou um mercado de trabalho que se tornou fundamental no processo de reciclagem.

Primeiramente, falarei sobre os pontos negativos do festival, porque quero me ater aos positivos, já que, de cara, a proposta do About Us me parece válida. É preciso começar a falar sobre sustentabilidade em todos os segmentos; levar o tema a todos os cenários.

Para um evento que tinha como slogan Entretenimento a Favor da Sustentabilidade, pareceu-me um tanto contrário que, ao servirem cerveja no bar, o conteúdo das latas fosse colocado em copos de plástico, gerando ainda mais lixo. As pessoas poderiam, perfeitamente, beber suas cervejas nas próprias latas. A proibição de entrada com qualquer tipo de alimento causou um mal-estar geral. Como o festival começava às 13h, muitos levaram o que comer, até porque foi grande o número de pessoas que vieram de outras cidades e mesmo de outros estados. Porém, ao chegarem à entrada, foram barrados e tiveram de comer o que tinham ou jogarem fora. O desperdício não deveria ser convidado do evento, não é mesmo?

Uma das ações que presenciei e achei completamente sem noção, foi a aparição de uma pessoa vestida de macaco, dançando no meio do público. Não fez sentido algum e a fantasia tinha um cheiro horrível, como se tivesse sido tirada do varal, depois de tomar chuva. O mesmo macaco subiu ao palco, dançando, rodopiando e pagando mico. Em determinado momento, aparecendo no palco, enquanto o Seu Jorge se apresentava, um dos músicos do artista se aproximou e pediu, aborrecido e com todo o direito, que o macaco deixasse o palco. O peludo de araque saiu de cabeça baixa e não voltou mais. Amém.

Houve também escolhas bem equivocadas. A banda NX Zero, sem questionar o talento ou a música dos garotos que, apesar de não fazerem meu gosto, são a fim do que fazem e têm um público que os admira, não coube na programação. A presença de membros do fã-clube amenizou a falta do público que preferiu chegar mais tarde, mas também foi bom para a banda. Se eles entrassem no palco com o público presente nos shows principais, teriam se apresentado sob protestos, já que logo que a programação do festival foi divulgada, isso aconteceu. Apesar de tudo, tenho de dizer que o baterista toca muito bem.

A outra escolha foi a apresentadora do festival, ao menos das atrações nacionais. Chris Niklas, conhecida pelo seu trabalho na MTV, não conseguiu, em momento algum, estabelecer contato com o público. A forma como se dirigiu a ele foi distante, como se não tivesse percebido que estávamos presentes, não do outro lado de uma tela de televisão. Sem qualquer carisma, ela apresentou as atrações nacionais e nos intervalos falou sobre lixo, água, efeito estufa etc, mas sem conquistar o público. Era extremamente importante que o apresentador ou apresentadora do festival fosse alguém que conseguisse chegar às pessoas presentes e fizesse com que o momento fosse de informação e reflexão.

Obviamente, essa é minha opinião, e acredito que outras pessoas tenham suas idéias sobre o que poderia ser melhorado e também do que foi super positivo. De forma alguma quero desabonar o evento, pois como já disse, tudo é válido e pode ser melhorado. E aproveito até para cobrar o público presente... A quantidade de lixo jogado no chão, que foi possível vermos na saída, era muita. Acredito que, apesar de muitos terem se incomodado com o pedido proferido por Chris Niklas, não era coisa do outro mundo cada qual achar um jeito de acondicionar seu próprio lixo para jogá-lo em locais apropriados, depois dos shows, ainda que fosse no lixo de casa. Falo sobre copos de plástico, garrafas de água, produtos que poderíamos sim enfiar na bolsa, ao invés de jogarmos no chão.

De positivo, o About Us teve muita coisa. Particularmente, gostei muito do local onde foi realizado o evento, na Chácara do Jockey, pois nos colocou em contato com a natureza e tinha tudo a ver com o perfil do festival. A feira montada na entrada apontava direções interessantes, como a possibilidade de o lixo ou objetos sem utilidade serem transformados em arte. Vocês podem conferir a mensagem postada no site do About Us em resposta às questões levantadas no fórum, inclusive algumas que levanto nesta crônica. Clique AQUI e confira.

Chegamos na Chácara do Jockey, eu e meus amigos, Thiago e Rubia, lá pelas 13h, pouco antes da apresentação do grupo Afro Lata que, acredito, merecia ter se apresentado mais tarde, quando houvesse mais público. Trabalho muito bacana o desse grupo de batuqueiros. Logo depois, foi a vez do NX Zero entrar no palco.

Gostei da idéia de haver diferença no valor do estacionamento para carros com 3 pessoas e a partir de 4 pessoas, assim como do frasco que a produção do festival distribuiu aos fumantes para depositarem as bitucas, ao invés de jogá-las no chão.

O que deixou a todos mais confortáveis, foi o fato de os shows acontecerem dentro dos horários estabelecidos. A dinâmica da troca de palcos e os intervalos não tão longos, foram fundamentais para que agüentássemos tanto tempo de festival. Também gostei dos curtas e dos depoimentos que foram exibidos entre os shows. Foram informativos e interessantes.

Eu não tinha assistido aos shows de nenhum dos artistas que se apresentaram no About Us. Na verdade, para mim a atração tão esperada era a Dave Matthews Band, de quem sou fã de carteirinha, vide crônicas ancestrais. Porém, gostei muito do show do Seu Jorge, quem tem uma voz belíssima e um suingue dos bons; fiquei feliz com a felicidade da Vanessa da Mata em estar naquele palco, prova disso o sorriso que não a largava, o que me fez pensar sobre conhecer o trabalho dela mais a fundo. As bandas desses artistas também eram muito bacanas e sim, meus caros, nada como intérpretes bem atendidos pelos seus músicos. A música – e nós – só tem a ganhar.

Acredito que o Afro Lata, o Seu Jorge e a Vanessa da Mata foram ótimos contrapontos para as atrações internacionais. A brasilidade esteve presente, fez as pessoas dançarem e cantarem.

Em seguida, subiu ao palco o Ben Harper, de quem não sabia bem o que esperar, pois conhecia praticamente nada. E adoro quando recebo mais do que espero de um show! E o dele, para mim, foi perfeito. A voz, o instrumentista, a presença dessa pessoa só enriqueceu o festival. Não que isso vá mudar a vida dele, mas mudou a minha. Ben Harper ganhou mais uma fã. Vanessa da Mata fez uma participação do show, cantando a música Boa Sorte/Good Luck, que gravou em parceria com ele.

Realizei-me assistindo o show da Dave Matthews Band. Em quase dez horas de festival, tendo passado seis delas em pé, sem me sentar nenhuma vez, saí da Chácara do Jockey nas nuvens. Foi um dos melhores shows que já assisti na minha vida.

Como baterista, o que dizer sobre Carter Beauford? Se ao colocarem a bateria no palco provocaram o delírio nos fãs, na hora do show as coisas esquentaram ainda mais: preciso, musical, com frases muito bem colocadas, enriquecedoras. Boa surpresa foi a presença do guitarrista Tim Reynolds na banda, quem aprendi a apreciar justamente pelo trabalho que vinha fazendo com o Dave Matthews. A presença dele fez com que a ausência do tecladista Butch Taylor, que deixou a banda pouco antes do início da turnê, não interferisse na qualidade do show.

Entusiasmei-me à beça com o saxofonista Jeff Coffin, quem vem se apresentando como convidado da banda há alguns meses, conhecido como membro da Béla Fleck & The Flecktones. A Dave Matthews Band perdeu o saxofonista LeRoi Moore, falecido neste ano. Não que a presença de Jeff Coffin soe como substituição, mas certamente o músico honrou o lugar que ocupou, pois sua performance foi excepcional. Também Rashawn Ross, trompetista da banda desde 2005; o baixista Stefan Lessard e o violinista Boyd Tinsley, garantiram que o show corresse com uma energia digna das grandes bandas.

Para o Dave Matthews eu preciso despender algumas palavras extras. Quem conhece a banda, sabe bem que ele é uma figura peculiar. Gosto da voz, de como soa o violão, das composições; acho bacanérrimo seu jeito extrovertido, meio amalucado, suas danças no palco, como se a música tivesse entrado nele e decidido passar um tempo como hóspede de seu corpo.

Some Devil, disco solo dele, é dos meus preferidos. No repertório do show em São Paulo, So Damn Lucky estava lá. Ouvi-la ao vivo, uma das minhas queridas do Some Devil, foi muito especial. Porém, fica difícil escolher preferidas em um show que foi repleto delas. De cara, eles chegaram com Two Step, uma canção fantástica e poderosa, que trouxe ao palco a Dave Matthews Band animada, que parecia não esperar que o público brasileiro cantasse TODAS as suas músicas.

All Along The Watchtower, um cover da canção de Bob Dylan que ganhou notoriedade com a versão de Jimi Hendrix, foi responsável por um belo momento do show, contando com as participações de Ben Harper e seu percussionista, Leon Mobley, quem também participou das músicas Drive In Drive Out e Ants Marching.

Sem sombra de dúvidas, o About Us promoveu um belo evento e espero que, numa edição futura, o festival ganhe força, seja lapidado e alcance o objetivo de continuar a oferecer entretenimento a favor da sustentabilidade... E que todos possamos compreender importâncias, como nos informarmos sobre maneiras de consumir que afetem menos à natureza e ouvir boa música, claro.

Se vocês quiserem conferir fotos do festival, tanto em Manaus, quanto em São Paulo, cliquem AQUI.

www.carladias.com

Comentários

Anônimo disse…
Carla, só você mesma para lapidar todo um texto com tantos detalhes, como quem conta um conto de fadas para uma criança amada. É lindo todo esse carinho com a cultura!
Carla Dias disse…
Marisa...

Eu tenho mesmo um imenso carinho pela cultura. E sem dúvida, este show foi reflexo desse amor todo que reservo às criações.

Obrigada por compartilhar!

Bjs!

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