O TEMPO, O ESPAÇO E O ABSURDO >> Eduardo Loureiro Jr.

O tempo é uma pessoa que acende e apaga ininterruptamente um interruptor enquanto outra pessoa canta uma música que acende e apaga palavras:
Eu sou um vaga-lume
que brilha e também se apaga.
O escuro vai fugindo
por onde meu lume vaga.
O espaço é estar acima, do lado, entre ou mesmo distante.
Absurdo é lembrar de uma pessoa que não se vê há vinte anos, da qual não se tem a menor idéia de distância... lembrar apenas porque aquela pessoa lhe ensinou a fazer uma dobradura de papel e você está fazendo essa dobradura agora.
O tempo-espaço é sentir-se próximo mesmo sem se estar próximo apenas porque se esteve próximo num momento anterior. É guardar para sempre uma presença que não existe mais.
O espaço-absurdo é estar perto sem poder tocar, tocar sem poder entrar, entrar sem poder perder-se, perder-se e ter que se achar.
O absurdo-tempo é estar em qualquer então, sem máquina, apenas com o sentipensamento.
Tempo-tempo é este momento.
Espaço-espaço é o abraço.
Absurdo-absurdo é este mundo.
E se o tempo-espaço-absurdo fosse tal que nos permitisse viver o que quiséssemos viver e só depois se organizasse, também segundo a nossa vontade? E se pudéssemos escovar os dentes, tomar a sobremesa, comer a salada e, no final, disséssemos que comemos a salada, tomamos a sobremesa e escovamos os dentes? E se cada agora, aqui, desejo, fosse uma peça de Lego que juntássemos e desjuntássemos durante a vida e definíssemos sua forma final apenas na morte, iluminados pela luz definitiva do fim do túnel?
E se eu escrevesse num lugar longe de casa coisas sopradas ao meu ouvido por uma voz antiga — ou ainda vindoura — sem que eu compreendesse ao certo o seu sentido?
Aqui agora isso.
Comentários
"Aqui agora isso" é bom...
Marisa, cada vez mais mérito da voz que sopra coisas ao meu ouvido. :)
Carla, o que posso dizer é que me sinto ins-pirado, pirado por dentro.
Voltei aqui e leio esse...
Tsc, tsc, tsc não há espaços entre os pensamentos, certo?
:)
bjs!
Ana