GUERREIROS E ANJOS DA GUARDA >> Eduardo Loureiro Jr.

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Há tempos e tempos, os deuses viviam no meio dos homens. Zeus, Atenas, Apolo... nos apareciam com alguma freqüência, agiam entre nós, ora com seus superpoderes, ora com manifestações que poderíamos chamar de humanas, como orgulho, inveja, ciúmes.

Há tempos os deuses se fixaram no céu em pedras e fogo -- as luas, os planetas, as estrelas, as constelações -- como se tivessem desistido de interferir nesse nosso mundo.

Mas e se não for bem assim? E se a inércia -- o movimento previsível dos astros -- for apenas uma aparência, uma ilusão? E se os deuses continuam interferindo sem que nós nos demos conta disso, sem que nossos olhos percebam seu veloz e luminoso movimento?

De vez em quando, ocorre-me ver de relance alguns de seus lances. Durante esse mês de agosto, por exemplo, aqueles e-mails dizendo que Marte apareceria tão grande quanto uma lua no céu pareciam indicar que o Deus da Guerra, auxiliado pelo galhofeiro mensageiro dos deuses, Mercúrio, estava querendo marcar presença, mesmo que através de um boato infindado (a tal aproximação de Marte deu-se em 2003, e mesmo assim ele não ficou do tamanho da Lua).

Marte está sempre por aí, nos que se lançam, nos que empunham armas, nos que enfiam a cabeça, nos que abrem o peito, nos que desbastam matas, nos que cavam picadas, nos que inventam caminhos, nos que rompem o sono, nos que rasgam o espaço.

Marte e o espaço...

Aqui de onde escrevo -- Rio Branco, capital do Acre --, há muitos guerreiros. Guerreiros de hoje, que já não pegam em armas de metal, lembrando guerreiros de antigamente com seus fogos de independência. Marte está na estrela vermelha que brilha no canto da bandeira que se move com o vendaval que varre com louca vassoura o calçadão da Gameleira.

Gameleira
O espaço, aqui em Rio Branco, é uma cidade cercada de floresta por todos os lados. É o verde arrodeando o amarelo para além da bandeira, projetando as cores no vento. O espaço é o ar que se mistura com nossos pensamentos. E o ar está cheio de anjos da guarda.

O coração, que é Marte, rasga o espaço do peito. E há sempre outro espaço maior, que Marte tenta rasgar, e rasga... mas há outro espaço maior. Sempre. Os anjos da guarda.

A minha boca se abre, se marte, as minhas palavras se anjam, se guardam. Tudo é tão grande, tão grande: as seringueiras, as histórias dessa gente, a própria gente é tão grande. Tudo é tão marte rasgando, rasgando, que eu morro de medo de me deixar rasgar e virar um anjo da guarda.



Comentários

Anônimo disse…
Virar um anjo? Sinto em dizer, Eduardo, mas em algum momento, você se deixou adormecer e rasgado foi, transformando-se num poderoso anjo de luz que guarda e ilumina este Crônica do Dia. :)
Carla Dias disse…
Belo texto, Eduardo. E concordo com a Marisa... Você é o anjo da guarda desse canto no qual encostamos a alma para ler o que dizem os corações.
Anônimo disse…
Um passeio entre fortaleza e delicadeza. Bom de passear também da crônica para os belos comentários.
Hebinha

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