DE HUMOR E DE ESPERANÇA À TERRA DESCE >>> Albir José Inácio da Silva
O bicentenário da chegada da família real ao Brasil reedita os registros sobre esse momento importante de nossa história. A pompa e reverência com que os brasileiros receberam Sua Majestade não estavam isentas de ironia e de um humor nem sempre tão discreto. O monarca bonachão não parecia se importar muito com isso. Aproveitava a lisonja e fingia não ouvir o riso a suas costas.
Daí para cá nenhum governante foi poupado. Alguns seguiram o exemplo de D. João VI, fingiram não entender, e a história do Brasil seguiu seu curso sem maiores traumas. Outros, raivosos, ameaçaram prender e arrebentar. E prenderam e arrebentaram, tingindo de sangue a esperança do jovem país. Mas nem estes calaram o riso.
A ironia , embora pareça passiva, é muitas vezes a resistência possível. Rir da situação opressiva em que se está inserido é rir de si mesmo, mas é também rir do algoz que sabe quão ridículo é o seu comportamento. Ninguém escapa ileso. Mesmo fechadas as urnas e calados os representantes do povo, os opressores sabem que no silêncio das ruas, onde quer que se reúnam duas pessoas, eles estão sendo julgados. É a democracia possível quando esse poder é formalmente usurpado.
Neste país, apesar das ditaduras ridículas, dos governantes ridículos em situações tão trágicas quanto risíveis, nunca puderam os ditadores dormir tranqüilos. A inconfidência jazia até mesmo no sorriso subserviente dos oprimidos. Somos um povo que tem sabido rir de si mesmo e daqueles que nos fazem chorar. É a vingança do oprimido.
É verdade que o riso não nos tem adiantado muito, por exemplo, na economia. Vamos trocando um explorador por outro, Portugal, Inglaterra, Estados Unidos, e nossa gente continua necessitada, por mais que risonha. O que não tem rendido na economia, entretanto, sobeja na literatura. De Machado de Assis a Stanislaw Ponte Preta, a ironia nos tem alimentado em substituição até mesmo ao arroz e feijão. Coisas como o Samba do Crioulo Doido e FEBEAPÁ (Festival de Besteiras que Assola o País) do Stanislaw não têm data. Ou, se correspondem a algum período de nossa história, diria que vai de 1500 a 2008.
D. João não é mais ridículo nem menos herói que qualquer brasileiro. Fez coisas importantes mesmo sem querer. Cometeu erros quando tinha ótimas intenções. Foi ridículo e foi gentil. Não queria vir e depois sofreu porque não queria partir. Traduz o monarca a nossa própria dor que, reciclada em anedotas, vem nos fazer felizes. Felizes, na falta de outro motivo, por habitar esta terra sempre tão cheia de graça - nos dois sentidos.
Daí para cá nenhum governante foi poupado. Alguns seguiram o exemplo de D. João VI, fingiram não entender, e a história do Brasil seguiu seu curso sem maiores traumas. Outros, raivosos, ameaçaram prender e arrebentar. E prenderam e arrebentaram, tingindo de sangue a esperança do jovem país. Mas nem estes calaram o riso.
A ironia , embora pareça passiva, é muitas vezes a resistência possível. Rir da situação opressiva em que se está inserido é rir de si mesmo, mas é também rir do algoz que sabe quão ridículo é o seu comportamento. Ninguém escapa ileso. Mesmo fechadas as urnas e calados os representantes do povo, os opressores sabem que no silêncio das ruas, onde quer que se reúnam duas pessoas, eles estão sendo julgados. É a democracia possível quando esse poder é formalmente usurpado.
Neste país, apesar das ditaduras ridículas, dos governantes ridículos em situações tão trágicas quanto risíveis, nunca puderam os ditadores dormir tranqüilos. A inconfidência jazia até mesmo no sorriso subserviente dos oprimidos. Somos um povo que tem sabido rir de si mesmo e daqueles que nos fazem chorar. É a vingança do oprimido.
É verdade que o riso não nos tem adiantado muito, por exemplo, na economia. Vamos trocando um explorador por outro, Portugal, Inglaterra, Estados Unidos, e nossa gente continua necessitada, por mais que risonha. O que não tem rendido na economia, entretanto, sobeja na literatura. De Machado de Assis a Stanislaw Ponte Preta, a ironia nos tem alimentado em substituição até mesmo ao arroz e feijão. Coisas como o Samba do Crioulo Doido e FEBEAPÁ (Festival de Besteiras que Assola o País) do Stanislaw não têm data. Ou, se correspondem a algum período de nossa história, diria que vai de 1500 a 2008.
D. João não é mais ridículo nem menos herói que qualquer brasileiro. Fez coisas importantes mesmo sem querer. Cometeu erros quando tinha ótimas intenções. Foi ridículo e foi gentil. Não queria vir e depois sofreu porque não queria partir. Traduz o monarca a nossa própria dor que, reciclada em anedotas, vem nos fazer felizes. Felizes, na falta de outro motivo, por habitar esta terra sempre tão cheia de graça - nos dois sentidos.
Comentários
Adorei que você pegou um gancho, que nem bem começou o ano e já tá ficando batido (mas que é inevitável), e deu a ele uma outra abordagem.
Como você sabe sou uma irônica de carterinha, membro da comunidade dos eskrotinhos e não pude deixar de lembar também das cobras do veríssimo. parabéns!
Joana,
que bom ver você aqui. Saudações irônicas! Bjs.
Marisa,
não houvesse outros motivos para se escrever crônicas, ler seus comentários já seria o bastante. Bjs.