VIII >> Fred Fogaça
Bartolomeu! O que eu não entendia era essa banalidade da existência, a mesquinheza do dia após o outro – afinal, o que era a vida, Bartolomeu?
E eu sonhava em um dia responder essa pergunta, mas ele morreu, Bartolomeu. Ele morreu enquanto eu pensava e já se foram anos que o programa dele na TV acabou.
Acabou e voltou.
Voltou com outra cara e outro anfitrião e eu já nem gosto mais porque profanaram o abraço final com uma selfie e eu que acho que a literatura e a arte não podiam se corromper com selfies, Bartolomeu, você me entende?
É tão baixo, Bartolomeu, é tão perverso.
Mundano, frívolo, diário.
Mundo cão – meu pai dizia que meu avô dizia.
Sabe, é isso que eu não entendo, é exatamente esse ponto específico de estranhamento que me foge.
Que eu estendo os conceitos e palavras e repertório – mesmo que pouco – pra me satisfazer, pra tentar entender mas eu já sei, Bartolomeu, qu’eu nunca vou entender.
Como quando eu esqueço uma palavra e ela ainda está ali e parece que na ponta da língua, como dizem, e literal como eu talvez pudesse alcançá-la, se colocasse a mão na boca mas ela não sai, ela não vem e eu sou obrigado a desistir e
Bartolomeu! A vida é só isso? Essa coleção de desgraças injustificáveis que se sucedem e não se sustentam a coisa alguma?
A vida, Bartolomeu, é só uma selfie?
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