DESPEDIDA >> Sergio Geia
Foi um momento suave.
Ela, uma moça jovem, cabelos escuros, rosto redondo, trinta, não mais, olhava atenta alguma coisa próxima à rua, talvez uma floreira. Ele, da mesma idade, barba por fazer e óculos, chegou, parou e também olhou. Indicou algo com o qual ela concordou com um leve meneio de cabeça.
Agora mais próximo, ele alisou delicadamente o braço fino dela, depois segurou sua cabeça encaixando a boca à sua para um beijo apaixonado.
Abraçou-a, por fim. Abraço sentido, de minutos.
Uma despedida?
Eu estava ao lado, na mesa do café, e minhas olhadelas procuravam encontrar o tom certo do disfarce, da calada, não queria que notassem o abelhudo.
Vi que ela chorara. Ele também parecia emocionado.
Olhos nos olhos, conversaram seriamente mais algum tempo. E vi outra vez se perderem num longo beijo.
Foi nesse instante que, ao se afastar, ouvi dela a única frase que a mim chegou.
— Boa sorte!
Ele sorriu. Fez um pequeno gesto de agradecimento com as mãos. E se foi.
Ela ficou parada olhando o carro partir.
Notei que seus olhos rapidamente se cobriram de uma espessa lâmina de água que aventava estourar.
Não demorou muito, estourou.
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