DESPEDIDA >> Sergio Geia




Foi um momento suave. 

Ela, uma moça jovem, cabelos escuros, rosto redondo, trinta, não mais, olhava atenta alguma coisa próxima à rua, talvez uma floreira. Ele, da mesma idade, barba por fazer e óculos, chegou, parou e também olhou. Indicou algo com o qual ela concordou com um leve meneio de cabeça. 

Agora mais próximo, ele alisou delicadamente o braço fino dela, depois segurou sua cabeça encaixando a boca à sua para um beijo apaixonado. 

Abraçou-a, por fim. Abraço sentido, de minutos. 

Uma despedida?

Eu estava ao lado, na mesa do café, e minhas olhadelas procuravam encontrar o tom certo do disfarce, da calada, não queria que notassem o abelhudo. 

Vi que ela chorara. Ele também parecia emocionado. 

Olhos nos olhos, conversaram seriamente mais algum tempo. E vi outra vez se perderem num longo beijo. 

Foi nesse instante que, ao se afastar, ouvi dela a única frase que a mim chegou. 

— Boa sorte! 

Ele sorriu. Fez um pequeno gesto de agradecimento com as mãos. E se foi. 

Ela ficou parada olhando o carro partir. 

Notei que seus olhos rapidamente se cobriram de uma espessa lâmina de água que aventava estourar. 

Não demorou muito, estourou.

Comentários

branco disse…
coisa linda. serginho, está é uma das que "acertou a mão". sensível, gentil e melancólica. a vida é um eterno dar adeus, pras pessoas, pros sentimentos, pras coisas que carregamos em nossas mochilas. além de tudo isso, profética !
sergio geia disse…
Poeta, meu amigo. Foi uma cena que mereceu registro. A minha filmadora entrou em ação rsrs. Lutei para encontrar o tom. Valeu!
Jurandir disse…
Poucas linhas e muita sensibilidade. Sinceramente, me emocionei.
sergio geia disse…
Caro Jura, obrigado pelo comentário. Grande abraço!
Darci Siqueira disse…
Sim uma despedida eu creio, rsrs. Maravilhoso, obrigado por nos permitir continuar imaginando.

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