TODA MANHÃ É RUMOR >> Whisner Fraga
Uma pedra rompe a pele do rio, que rasteja no leito.
A pedra é uma tartaruga semienterrada no fluxo.
A menina me mostra o vendedor de algodão-doce e ele já aproveita e se aproxima, um pacote estendido.
Os cabos de aço, as braçadeiras, os parafusos, as porcas, a parafernália de mecanismos murchará em quatro ou cinco gerações.
As heras abraçam o que podem de aço.
A botânica se aglomera para a orgia.
A menina está alta em meus ombros e se agita por um vento.
Caminho pela ponte e fotografo uma viga enferrujada: há uma beleza inadiável na extinção.
Uma mulher estende um lenço na grama e acomoda alguns brincos, colares.
Em frente, dois moradores de rua partilham uma bituca enquanto riem da manhã.
A menina acompanha a correnteza, a apreensão escolta um galho que se submete ao atrevimento da água.
Ela aperta minha mão.
Um socó assombra do alto de um salgueiro.
A menina inclina a cabeça e o semblante traduz uma vontade de ir. Ela me entrega o palito e alguns restos de açúcar encaroçam a madeira.
Eu também quero sair dali.
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