MOROSIDADE DA CULPA >> Carla Dias >>
O fato de a mente dele trabalhar em ritmo mais ralentado do que a da maioria, e ele enxergar a vida de uma perspectiva nada convencional, a mãe diz que é defeito de fabricação. Ela confessou à amiga que achava que tinha a ver com o momento da concepção. Que naquele dia, justo nele, ela e seu marido decidiram esquentar as coisas e cometeram uma luxúria que os levou a gritar feito loucos, naquele quartinho de motel lá da Rua Três. Foi tanta devassidão, que ela acredita que tenha pagado essa conta gerando um filho meio aluado. Não que ele seja burro, mas tem esse jeito outro que ela não sabe definir. Tornou-se um homem trabalhador, apesar de ninguém se atrever a lhe assinar carteira. E a mãe, já cansada de pagar a conta do seu despudorado comportamento, vive a tentar melhorar o que, para ele, é do jeito que é; pelo sofrimento que ele não sofre. Faz de um tudo na tentativa de aplacar a culpa que nunca foi dela. Afinal, a culpa faz isso... desvia o afeto, cala a felicidade, cria distâncias.
Imagem: La joie de vivre © Max Ernst
carladias.com
Comentários
Albir, prazer é o primeiro a levar a culpa.