OBSESSÃO SUAVE >> Fred Fogaça
Minha casa não tem porta de entrada: cá dentro, existo, apenas: por isso cedi. Qual o limite do tom? Precisei força-lo ao passado. Decisão tomada: como se enfrenta um desespero dessa magnitude? Quero dizer, nessa tecitura tortuosa e incomum? Nesse milimetramento oscilante pelo espaço que a massa, um dia corrida, ocupa?
Não há outrora que justifique.
Ódio puro concentrado.
Minha casa só tem uma saída: nos fundos: a preço de abrir a porta pra uma maquina de lavar é que se entra por ali: a preço de um varal de panos impossíveis que balançam na vista. O vaso sanitário encara de frente o fogão na cozinha - não fossem duas persianas grandes que abriam pra sacada pequena, agora unidas nos inversos, feitas de biombo. A estrutura dessa subsistência se expressa no desespero dos seus tons.
A que preço.
Uma demão de desgaste: sem choro. A lixa não expressa arrependimentos. Não sem forçar: o presente é forte, suas variações cromáticas se desdobram pelos cantos baixos, e o verde destituído resiste no chão poeirento, impregna até na força dos braços, o teto baixo nunca alcança em cima e do ditador, não a salvo, resta em preto só os olhos de brincar pelo piso escorregadio que eu me deito, com os resto desse desespero: não tem fim.
Uma demão de apaziguamento: massa lida com massa. Uma esperança é uma realidade distante em um momento inoportuno. Mesmo que as luzes já não se congestionem, meus olhos desacostumados da clareza insistem no breu daquelas más decisões - não minhas.
Três camadas de esquecimento: corria o rolo como se o tempo cobrasse as paredes, melindrava-me os cantos como se maus humores vazassem pelos furos. A gente aceita, as vezes, mas do que se convence. Aos poucos é que me esqueço: a tons da praia hoje me sento, deixado às reticencias, e na serenidade desses tons escrevo: foi n'um impulso, é minha obsessão suave.
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Linha crônica.