UNS VERSOS >> Junoca
Meu pai me pediu uns versos...
Primeiro pensei em fazê-los de fumaça, saindo em espirais suaves de dentro de meus dedos.
Mas eu não fumo, não sei como fazê-los.
Depois pensei em fazê-los de símbolos gravados em cartas ou em tabuleiro.
Mas confesso que me chateia jogar com meu pai e nunca ter como vencê-lo.
Pensei até em fazê-los de água — ardente — descaradamente embriagadores.
Mas meu pai não bebe mais, e eu também não bebo.
Talvez pudesse fazê-los de estampado tecido, perfeitamente arranjado em gravata.
Mas não aprendi com meu pai a dar nó em pescoço.
Poderia fazê-los da saliva de histórias repetidas à exaustão em encontros de família.
Mas não sou bom de memória, e da próxima vez preciso estar mais atento.
Poderia mesmo fazê-los de silêncios, tão perfeitos quanto os de meu pai me acolhendo.
Mas meu pai me pediu uns versos, e preciso fazê-los.
Faço, então, meio sem jeito,
versos de todos os momentos,
— até aqueles de que não me lembro —
em que meu pai me carregou nos braços,
me levou pela mão,
me conduziu pela palavra,
me inspirou pelo exemplo,
me comoveu pela tristeza
e me guardou no peito.
Esse poema
— mesmo assim desajeitado —
é seu, meu pai,
É do ar do Pai.
Primeiro pensei em fazê-los de fumaça, saindo em espirais suaves de dentro de meus dedos.
Mas eu não fumo, não sei como fazê-los.
Depois pensei em fazê-los de símbolos gravados em cartas ou em tabuleiro.
Mas confesso que me chateia jogar com meu pai e nunca ter como vencê-lo.
Pensei até em fazê-los de água — ardente — descaradamente embriagadores.
Mas meu pai não bebe mais, e eu também não bebo.
Talvez pudesse fazê-los de estampado tecido, perfeitamente arranjado em gravata.
Mas não aprendi com meu pai a dar nó em pescoço.
Poderia fazê-los da saliva de histórias repetidas à exaustão em encontros de família.
Mas não sou bom de memória, e da próxima vez preciso estar mais atento.
Poderia mesmo fazê-los de silêncios, tão perfeitos quanto os de meu pai me acolhendo.
Mas meu pai me pediu uns versos, e preciso fazê-los.
Faço, então, meio sem jeito,
versos de todos os momentos,
— até aqueles de que não me lembro —
em que meu pai me carregou nos braços,
me levou pela mão,
me conduziu pela palavra,
me inspirou pelo exemplo,
me comoveu pela tristeza
e me guardou no peito.
Esse poema
— mesmo assim desajeitado —
é seu, meu pai,
É do ar do Pai.
Comentários
prá você, pro seu pai e pros seus versos.