UM PULINHO EM CÓRDOBA
>> FERNANDA PINHO
Córdoba era uma frustração em minha vida porque eu detesto
"quase" e certa vez quase estive lá. Eu estava no nordeste a
trabalho, de onde deveria seguir para a Argentina, mas o evento que eu cobriria
foi cancelado e a viagem nunca aconteceu. Uma frustração que pairava no ar
sempre que a Córdoba era mencionada, o que não era raro já que tenho um amigo
que morou por lá e é um verdadeiro entusiasta da cidade.
Mas então, semana passada tivemos uma ideia. Vamos pra
Córdoba? Vamos. Quando? Sábado. E fomos. Com uma mala, uns mapas toscos que eu
imprimi do Google, algumas dicas do amigo entusiasta e nenhum planejamento.
Qualquer viagem que parte daqui de Santiago já começa bem
com o espetacular cruzamento da Cordilheira dos Andes que, a essa altura do
ano, está branquinha como montanhas de embalagem de chocolate. Não demorou
muito e chegamos ao nosso destino. Voo rápido. Como de Belo Horizonte a São
Paulo, me apressei em dizer (acho que estou ficando um pouco chata, para tudo
tenho uma comparação com o Brasil).
A simpatia e educação do taxista que nos pegou no aeroporto
já acabaram de cara com o preconceito que nós brasileiros (e os chilenos
também) temos com os argentinos. Foi a primeira das agradáveis surpresas.
Quando começamos a caminhar pelo centro histórico, a cidade
fazia sua habitual sesta. Mas, aos poucos, museus, cafés, igrejas, palácios e
simpáticas lojinhas de alfajores iam ficando de portas abertas para nós. A cada
lugar que visitávamos, nos sentíamos gratos por termos nos proporcionado essa
viagem de sopetão. E nos sentíamos cada vez mais encantados pelo povo (o
taxista era regra, não exceção). Percebemos que, além da educação, eles
carregam uma tranquilidade revelada pela fala lenta. Ouso a dizer que Córdoba é
a Bahia da Argentina. Uma Bahia sem axé, mas com tango. Nunca pensei em sair
para jantar e me deparar com vários casais de todas as idades dançando tango em
plena praça pública.
A dança foi a entrada para um jantar dos deuses. Aliás,
todas as refeições eram dos deuses. Defensores dos animais, tenham compaixão de
mim. Mas aquele entrecorte, hummmm, é de
arrancar uma lágrima
de emoção (e muitos litros de saliva) só pela lembrança. As carnes, os pães, os
doces, o tradicional Chorripan (pão com linguiça), tudo delicioso e sempre
servido em locais aconchegantes. Na nossa última noite, aliás, fomos a um
restaurante (chamado Mandarina, se um dia você for a Córdoba não deixe de
conhecer) que nos recebeu ao som de Gilberto Gil. Aí eu não tive dúvidas, é
mesmo a Bahia da Argentina. E onde é Bahia, só pode ser bom.
Córdoba foi promovida de quase-viagem para
viagem-surpresa-incrível e eu adquiri novas figurinhas para meu álbum de boas
lembranças.
Comentários
o melhor de tudo isso é que também podemos viajar nas asas de suas crônicas.