NÃO ENCHE, ESTOU COM FRIO >> Fernanda Pinho
Há algumas semanas venho acompanhando pelos noticiários da tevê e pelas notícias dos meus amigos que moram em outros estados a queda vertiginosa da temperatura. Em Santa Catarina nevou! Em São Paulo as pessoas estão saindo de casa com quatro agasalhos. E até os termômetros do Rio de Janeiro ficaram muito, muito abaixo dos 40 graus habituais. Eu, pra não dar zica, nem comentei muito o que estava acontecendo aqui em Belo Horizonte: calor em pleno inverno. Apenas agradeci mentalmente por morar nesse paraíso climático. Mas o inverno já estava com quase dois meses e, na última segunda, deu-se o inevitável: amanhecemos num frio dos infernos. Sim, dos infernos. Nem vem que não tem, que isso não pode ser de Deus. Acho que, inclusive, a primeira parte da Divina Comédia poderia ser o Inverno de Dante.
Eu sei que sou minoria, pois cada vez que emito essa minha opinião tenho que aguentar as reações exacerbadas das pessoas dizendo que eu sou louca, que eu sou do contra e blablablá. Mas o fato é que eu odeio inverno e nenhum dos argumentos dos seus amantes - a maioria, eu sei - me convence. Peguemos o maior deles, repetido exaustivamente por quem curte um friozinho: inverno é bom pra ficar deitado, debaixo das cobertas, vendo filme, tomando chocolate. Ok. Eu também acho mas, infelizmente, eu não tenho essa vida mansa. No inverno eu faço exatamente as mesmas coisas que faço o ano inteiro: saio pra reuniões, saio pra entrevistas, saio pra academia, saio pra ir ao banco, saio pra ir ao médico. Enfim, eu preciso viver! Coisa que pra mim é impraticável com a temperatura lá embaixo. Porque pra viver eu preciso me arrumar. E me arrumar se torna inviável quando meu cabelo está espigado, minha pele seca, minha boca rachada, minhas pernas desbotadas e meu nariz um pimentão (aliás, acho uma judiação que ainda não tenho inventado uma roupinha pra nariz). Pra viver, eu preciso me vestir e nem adianta tentar me convencer de que as roupas de inverno são mais elegantes. Se você acha elegante andar todo empacotado, parecendo um colchão amarrado ao meio, me desculpe, mas o problema é seu. Pra viver eu preciso tomar banho. E é deprimente ter que reunir forças pra conseguir tirar a roupa e deixar o chuveiro pingando cinco gotas, pra não cair gelado. E mais deprimente ainda é ter que sair do chuveiro. E pra viver eu preciso sair do chuveiro. E de casa! E me dá vontade de chorar quando eu sinto aquela rajada de vento gelado cortando meu rosto. Quando noto meus fios de cabelo, ainda úmidos, endurecendo como estalactites. Quando nove em cada dez pessoas com quem me relaciono estão com gripe ou algum problema respiratório. Pra viver eu preciso me relacionar com gente. E no frio todo mundo se recolhe. As pessoas andam a passos apressados, com os braços cruzados, afoitas por um ambiente mais aconchegante. No frio são todos introspectivos e individualistas. Querem mais é chegar em casa e tomar seu chocolate, sozinho, debaixo das cobertas.
Não vou negar. O frio tem seu charme. Deve ser legal ver a neve cair de dentro de um chalezinho nos Alpes Suíços. Mas, veja bem, eu não estou, nunca estive e talvez nunca estarei na Suíça. Então eu me limito a me preocupar com a minha realidade. E a minha realidade é: sobrevivo no inverno e vivo no verão. E nem tentem me persuadir dizendo que isso é porque eu não conheço o calor de verdade. Conheço sim. Já estive no Rio de Janeiro, no nordeste do Brasil e em Resplendor (uma cidade no leste de Minas, onde você sua até dentro do banho). E vou falar com vocês: nunca fui tão feliz como nesses lugares. Nunca me senti tão acolhida, tão aquecida, tão em casa. Porque eu amo o sol e ele me ama também. E acho uma tremenda cara-de-pau que os calorentos que repudiam o verão fiquem procurando uma frestinha de sol pra se aquecer nesses dias frios. Sai pra lá que o sol é meu por direito. Eu que o amo e o defendo 365 dias por ano. Não prefere o frio? Então fica aí na sua sombra.
Não é impressão. Eu realmente estou invocada que o inverno tenha resolvido aparecer por aqui. Mas quando o verão chegar, com sol rachando, corpos suados, cores vibrantes, chinelos, vestidos curtinhos, pessoas na rua, cerveja gelada, lembrem-se de mim e da felicidade plena que estarei sentindo nesse momento.
p.s.: Eu sei que falar de clima parece falta de assunto. E é mesmo. O inverno me deixa assim: sem assunto e sem humor. Por isso o texto pode ter soado um pouco áspero e frio. Tá vendo? Se frio fosse bom, não seria sinônimo de hostil.
Foto: http://www.sxc.hu/
Comentários
SIM! O CALOR ME ESTRESSA!!!! kkkkkkkkkkkkkkkkkk
ODEIO FRIO e odeio mais ainda o fato das pessoas defenderem esse clima se esquecendo que têm que acordar cedo, trabalhar, enfim...
Queria ver a cara dessas pessoas acordando às 5:45, tomando banho, etc.
Frio é coisa de gente FOLGADO e, na grande parte, gente feia, que precisa de roupa pra ficar bonito.
Mto bom, irmã!
Bjoos
Estou com vc e não abro, aliás, cá entre nós, dormir nesse frio do cacete sem ninguém para esquentar é castigo né? coisa do demo meeeesmo...
Taka: vc é japonesa. Aí é a terra do sol nascente!!! Vc precisa amá-lo!
Bjos!!
Sobre frio e calor acho uma coisa: ODEIO os extremos. Como nosso signo eu gosto do equilíbrio. Quando está muito frio tem tudo isso que vc falou e quando tá muito quente, eu não me sinto gente!
Então rezemos pelo equilíbrio!
Beijos, amore!
Jujú, é verdade, amiga. O pior é que do jeito que as coisas andam a tendência é vivermos sempre nos extremos.
Jaque, muito me incomoda tb pensar nas pessoas e nos bichos que vivem na rua. Não apenas no frio, mas no ano todo. Mas eu não queria deixar os adoradores do inverno com a consciência pesada. Apenas relatar a pequena tragédia que o frio faz na minha vida particular :)
Obrigada pelos comentários, gente. Aliás, hoje tá sol em BH. Estou feliz!
Concordo em gênero,número e grau!!!