94 OUTRA VEZ >> Fernanda Pinho
"Desde o início, eu já fiquei muito contente só de saber que o Brasil participaria da Copa do Mundo. Eu já estava preparada para perder. E principalmente para ganhar. Mas mesmo assim, eu queria mesmo era a vitória. Eu me sentia muito nervosa a cada jogo. E assim os jogos se passaram e o Brasil foi eliminando todos os países. Até que chegou a vez da Itália passar pelo Brasil. Foi um jogo de muita aflição. Tivemos que ir para os pênaltis. Foi quando o Roberto Baggio errou o chute e o Brasil inteiro comemorou a vitória. Foi muita emoção. Obrigada, seleção! Foi muito bom, pela primeira vez, ver o Brasil ser campeão".
Achei o texto acima nos guardados da minha mãe, assinado por mim, com a data de 09 de agosto de 1994. Aos dez anos de idade, eu ainda me sentia extasiada e eufórica pelas emoções proporcionadas pela magia futebolística. Foi a primeira vez que eu me senti assim e, naturalmente, também foi a única vez em que eu me senti assim. Claro, vieram muitas outras emoções com meu time e com a própria seleção, depois disso. Mas aquela foi a primeira vez, e a primeira vez só tem uma.
Embora eu tenha saído da maternidade enrolada no manto do alvinegro e passado boa parte da minha infância trajando o uniforme do Galo (meu pai custou a aceitar que eu nasci Fernanda, e não Reinaldo), foi só na Copa de 94 que eu fui entender que fascínio era aquele que o futebol exercia sobre as pessoas. Foi quando o Brasil empatou com a Suécia, ainda na primeira fase, que eu entendi como era possível que um Mineirão inteiro se calasse quando um time de fora fazia um gol aqui dentro. Foi quando o Leonardo (lindo!) foi expulso no jogo contra os Estados Unidos que eu entendi por que as mães dos juízes eram tratadas com tantos impropérios. Foi quando Bebeto balançou os braços, homenageando o filho recém-nascido, no jogo Brasil X Holanda, que eu entendi por que homens adultos se debulhavam em lágrimas por causa de outros homens correndo atrás de uma bola. Foi quando o Taffarel fez uma linda defesa de pênalti no fatídico jogo contra a Itália que eu entendi por que meu pai chegou a quebrar o lustre da sala com uma cabeçada de emoção. Foi quando Baggio deu aquela bola fora que eu entendi por que meu pai achava mais legal que eu tivesse nascido Reinaldo, e não Fernanda. E foi quando Dunga, o capitão do tetra, levantou aquela taça que eu descobri que o Brasil era o país do futebol. A gente podia ser o país do basquete, da ginástica olímpica ou de algum esporte mais remoto, como o rúgbi (a África do Sul não é o país das vuvuzelas e do rúgbi?). Mas não! Que ficassem os americanos com o basquete, os russos com a ginástica e os sul-africanos com o rúgbi (e com as vuvuzelas). Porque o futebol já era nosso — na minha vida, pelo menos a partir de 1994, quando o Dunga levantou aquela taça.
Ter o Dunga no comando, dezesseis anos depois, era para ser um bom presságio. Não apenas para mim, que descobri pelas mãos — e pelos pés — dele que o Brasil é o país do futebol, mas para todo mundo. O povo, no entanto, embora inevitavelmente envolvido pela magia da Copa, parece andar desacreditado. Eu — com a minha opinião de quem ainda acha o Leonardo lindo, mas que não faz a menor ideia do que seja gol de trivela — acho que não falta ao Dunga talento, competência e muito menos disciplina. Falta ao Dunga o jeitinho brasileiro, um toque de malemolência, um sorrisinho de vez em quando. Dunga, em sua missão de ser Mestre, virou Zangado. Espero que essa historinha tenha um final Feliz. Porque, como em 1994, eu estou preparada para perder. E principalmente para ganhar.
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Comentários
Vamos torcer para o Dunga e pelo final feliz!
Bjos ao quase Reinaldo..rs
Quanto ao Dunga, adoro ele, torci para que fosse o técnico da seleção quando cogitaram um novo. Acredito no trabalho dele e não esqueço quando levantou e beijou aquela taça. Também fiquei feliz por ele cortar umas estrelinhas da Copa, pois de uns tempos pra cá, os jogadores da seleção estão mais preocupados com status, arrumar a meia no campo, fingir que joga, enfim, Dunga fez bem em dar uma chance aos que querem honrar a seleção. Eis a opinião de quem não entende nada de futebol, mas torce com o coração! Boa sorte aos rivais...
Bjusss
Loreyne
Apesar do amor pelo futebol ter diminuído, confesso: os batimentos cardíacos aumentam a cada jogo do Brasil.
bju
mesmo com todo mundo falando e escrevendo sobre isso, você ainda consegue fazer uma crônica interessante. Parabéns!