O JOGO >> Eduardo Loureiro Jr.

As regras eram as seguintes:

a) eu pediria insistentemente;
b) ela negaria até o fim.

E depois:

c) ela mudaria de ideia e me ofereceria o que eu havia pedido antes;
d) eu, por minha vez, recusaria a oferta.

Esfreguei os olhos com a lateral dos dedos indicadores. E lhe pedi o anel.
Ela negou.
Friccionei a manga direita da camisa sobre meu olho esquerdo. E lhe pedi novamente o anel.
Ela continuou negando.
Perguntei a ela se havia um cisco ou um cílio em meu olho.
Ela moveu suavemente seu polegar e o indicador direito sobre o meu rosto, abrindo delicadamente meu olho esquerdo.
"Não vejo nada", ela disse. Mas continuou passeando os dedos em meu rosto à procura da causa de meu incômodo.
Eu agradeci a tentativa. E renovei o pedido do anel.
Ela renovou a negação.
Eu argumentei. Depois supliquei.
Ela, "não". E "não".

"Pensando bem, vou lhe dar o anel".
"Não, obrigado".
"Mas você queria tanto".
"Nunca quis".
"Mas você pediu".
"Pedi o que você não me daria para que você me desse o que você me deu e que não adiantaria eu lhe pedir".
"Mas eu não lhe dei nada".
"O carinho no rosto, o carinho que eu tanto queria".



Comentários

Amor amor disse…
Lindo, Eduardo! Infelizmente, na vida, no amor, temos que usar de estratégia pra conseguir o que queremos, e nem assim vem com gosto, porque pedimos e não nos foi dado voluntariamente. Mas ainda assim, talvez valha a pena. Realmente, não sei...só sei que o texto é lindíssimo!
Tia Monca disse…
Assim não vale :o)
Bj,
Tia Monca
Juliêta Barbosa disse…
Ah, Eduardo, como seria bom se o amor pudesse prescindir desses jogos. Certa vez li um cartão com a seguinte mensagem: "É belo dar quando solicitado, porém é mais belo dar por haver compreendido." A partir daí entendi o verdadeiro significado do amor...
Obrigada, por tornar o meu começo de semana tão poético.
Rayanne disse…
Às 0h5m você tirou o meu primeiro sorriso do rosto de hoje.
=)
Amor Amor, nossa criança interior apela pra tudo. Mas, como diz você, Tia Monca, assim não vale (embora o prazer exista quando o Pathwork nos mostra a atitude até então escondida da criança, e o meu prazer roubou também o seu sorriso, Rayanne). De passo em passo, a gente chega lá, Juliêta, no prescindir de jogos pra amar na justa verdade de cada um. Então a gente deixará de ser brabo e será bravo (grato, Augusto).
Carla S.M. disse…
hahaha :) (nem vou jogar com as palavras)

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