O SORRISO DE ANASTÁCIA >> Cristiana Moura
Lua cheia parece mesmo influenciar o humor das pessoas. Vozes em tons sem musicalidade, testas franzidas, dentes rangendo. Pessoas são assim, vai entender. E ela era apenas serenidade, movimento, voz e violão em sorrisos largos.
Anastácia observa os desencontros, a moça de outra mesa reclamando do garçom, alguns mirando seus smartphones e confraternizando com quem não está lá. É dia de festa em noite de lua cheia à beira mar. Ela lamentou os desaprendizes da alegria, respirou, continuou a beber, tocar, cantar. E, sem saber, seu sorriso sem pejo em desvelar todos os dentes, tanto quanto a lua, prateava a noite e as vidas de quem cantarolava ao redor.
Quem vê pensa que não, mas ela também se cansa. Claro. Enfarda-se do trabalho, das sobrecargas de desencontros desmerecidos. Por vezes entrega-se à poltrona, às lágrimas e à quase falta de ar. Pensa: há dias em que uma mulher precisa de « um calmante, um excitante e um bocado de gim ».* E, desmedida como por vezes sabe ser, ela entrega-se àquilo que precisa. Chora.
Noutro dia a vi passar. Corria. Parecia que o mundo inteiro cabia em suas passadas firmes, sensíveis, emocionadas. Deve ser por isso que não entende pessoas que, em dia de festa, parecem estar em prontidão para brigar com a humanidade.
Brigar com a humanidade ? Ela não.
Porquê ? Ora, Anastácia tem o rosto feito de sorrisos, sabe dançar, cantar e tocar.
Anastácia simplesmente sabe ver o luar prateando mar.
* Trecho da música Bastidores de Chico Buarque de Holanda
Comentários