O SEM-FIM DELAS >> Carla Dias >>


Sentada à porta de casa, a irmã mais nova um degrau abaixo. Ela escova os cabelos rebeldes da menina, uma criança arredia, mas de generosidade de não caber no universo. A tarde já descambando para a noite, o céu avermelhado encanta os olhares delas, duas figuras miúdas existindo em um sem-fim. Sempre houve muito silêncio por ali. Somente os bichos, vez ou outra, por excesso de braveza ou desejo, faziam seus barulhos soarem alto. Mas elas estão acostumadas à solidão dos abandonados, daquela que engole sorrisos e planos e deles não deixa rastros. Vivem, desde sempre, a rotina das breves e necessárias conversas, como se não houvesse o que ser confidenciado uma a outra. Houvesse um observador atento a essa cena, ele saberia identificar o que não falta a elas. Pudesse observar cada escovada de cabelos, o laço ajeitado bonito, o assistir ao pôr do sol, uma na companhia da outra, ele compreenderia a tristeza da solidão. Afinal, foi ela que não fez direito o seu trabalho. 


Comentários

branco disse…
há pouco tempo escrevi "aquele que observa"....e cá estou observando atentamente....sim a solidão falhou....e eu observo maravilhado e boquiaberto.
Albir disse…
Que doçura, Carla!
Carla Dias disse…
Branco, observar é preciso, não? E assustadoramente revelador. Beijo.

Albir, a doçura inquestionável do agridoce. Beijos.

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