TRÊS >> Fred Fogaça
Tenho essa história sobre mim... bom, ou que restava de mim depois dela.
Às
tantas da noite, tantas que eu já nem me lembrava mais. As garrafas de
cerveja congestionavam os copos, e os garçons, se movendo devagar pela
penumbra esfumaçada do bar, imitavam fantasmas.
Talvez fossem três, porque a banda tocava Anisio Silva.
Ninguém
cantava, ninguém saia da mesa. Escorrido pelo assento, apoiada a cabeça
no encosto, olhava o pendente. Iluminava pouco. Quando em quando dava um
trago no cigarro e o batia no cinzeiro. Sem olhar, as vezes, na mesa
mesmo.
O
frio da última nota estranhou o ambiente - do que se envolve nos
limites do compasso minha confiança é finda, a fragilidade do tempo da
nota era ao que se podia agarrar e nada mais. Nenhuma música era tocada
depois dessa.
Ante
hora de fechar e não tinha pr'onde ir. Mal fosse das bebidas ou o que -
e eu já tinha aceitado há muito o que aconteceu - mas naquele dia, hora
e passo frente a saída, eu repensei sobre ela. Não era um pensamento
bem formado enquanto a porta batia atrás de mim, e o mundo ainda
vacilava no ébrio dos meus pés, mas é que não nos demos a oportunidade
de uma despedida.
Parei
à meio fio, observando o vazio no último trago: o horário de
expediente da cidade tinha acabado e eu figurava o derradeiro
trabalhador da vida. Joguei o cigarro no chão e atravessei a rua mundo
adentro. Foi quando vi uma luz.
Era
isso. Só precisava dizer o que você ansiava em ouvir, né? Que cabeça
distraída a minha, me desculpe, mas como ia atentar em dizer o que
sentia, sequer desse último ônibus da madrugada eu me lembrava.
Observação: essa foto pode ser encontrada no meu Instagram.
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