O TARADO DO SUPERMERCADO E A MATEMÁTICA >> Sergio Geia



Responda: existe iguaria mais deliciosa que pizza pra juntar a galera, beber e jogar conversa fora? Eu não conheço. Se houver, me fale, please. A informalidade da pizza combina com os encontros informais; os sabores das pizzas combinam com os sabores das histórias que lembramos juntos. 

Gadioli de sempre, lotado, calor. Dessa vez veio todo mundo: Mara, Cláudio, Téo, Silvana, Serrate, Eliana, Marcos, Adélia, Jurandir, Cristiane, Chiara e Francine, essa, uma nova amiga. Foram histórias e mais histórias. A mim coube contar aos dinossauros histórias não muito agradáveis para aquele que contava. Já imaginou ser confundido com um tarado? Mas a distância do tempo nos permite hoje, dar risada daquilo que causou um sofrimento lá trás. 

Na época, eu trabalhava na Prefeitura de Taubaté. Vez em quando viajávamos para São Paulo, destino Secretaria da Fazenda, para tratar de assuntos burocráticos que agora não vêm ao caso, mesmo porque, isso é uma crônica, que deve ser leve como um pedaço de algodão, mas que naquela época identificávamos por essas cinco letrinhas mágicas: “D.I.P.A.M.”. Quer saber o que é? Google, amigo. 

Tudo aconteceu em uma dessas viagens. Na volta, paramos num hipermercado às margens da Ayrton Senna; ou Dutra? Entramos para dar uma espiada quando me bateu AQUELA dor de barriga. Deixei os colegas e me dirigi ao banheiro ― não comece a rir; não ainda, pelo menos; essas coisas acontecem comigo, com você, com a Gisele Bündchen, com a Natalie Portman... 

Fiz o que tinha de fazer e voltei. Escolhi um BIS, um Hershey's com cookies, quando bati a mão no bolso de trás da calça, gelei: “a carteira?”. A resposta veio rápida: “banheiro”. Saí que nem um maluco, já imaginando que ela, com pouco dinheiro, mas com meus documentos, já teria virado pó.

Naquele hipermercado, digamos que ambos os banheiros, masculino e feminino, seguiam um mesmo padrão. Na minha pressa, nem me atinei que o primeiro banheiro que vi, e onde entrei voando, era o banheiro errado. 

O espaço que havia utilizado, segundo a minha ótica de momento, estava fechado. Não tive dúvidas. Nessas horas, em que a insanidade bate, não pensamos direito no que estamos prestes a fazer. Me ajoelhei e enfiei a cabeça por debaixo da porta com a esperança aguçada. Nada. Nem carteira, nem ninguém. A porta estava trancada. Estranhei. Como?, se havia acabado de utilizar. Por via das dúvidas, entrei nos demais. Nada. Pensando no que fazer, vejo uma senhora adentrar o recinto: a ficha caiu. 

Não, querido, a distinta senhora não me chamou de “tarado do supermercado”; isso foi história inventada pelos mui amigos, os colegas. Mas já imaginou se ela presenciasse a cena de um sujeito espiando por debaixo da porta? Não imaginei e nem quero. A carteira estava lá, intacta, sã e salva, no banheiro certo. 

Lembramos de outra — essa, por motivos óbvios, a gente nunca esquece —, que diz respeito à matemática, que nem sempre responde a certas questões. Aliás, cerca de quinze, vinte anos depois, ou mais, ainda tentamos encontrar respostas para o ocorrido. 

Era comum na repartição que o funcionário novo pagasse um almoço para os colegas, tão logo recebesse o primeiro salário. Ele, um homem correto e que respeita as tradições, não se opôs. Acertou-se apenas, até como forma de não desfalcar o novato, que ele pagaria o almoço, mas que bebidas, sobremesas e afins seriam divididos igualmente pelos demais. Assim foi feito. Era para funcionar, certo? Só que não. A conta simplesmente não fechou; a matemática, tadinha, que poderia nos dar respostas, falhou. Ele pagou o almoço - pelo menos é o que dizem -, nós pagamos o restante, certamente que pagamos. Ocorre que o resultado dessa divisão, e que foi a nossa parte, ficou maior que o valor devido a cada um se toda a conta fosse dividida por cabeça. Entendeu? Nem eu. Nem ninguém. 

Encontros assim alimentam a fogueira da felicidade. 

Pessoas: usemos a matemática para multiplicar esses encontros, eles são tão poucos. 

Nesse caso, pelo menos, ela vai funcionar. 

Espero. 

Acho que sim. 

Será? 


Ilustração: www.cetecc.org.br (matemática)

Comentários

Unknown disse…
Amei , Sergio! Adorei textos que são reais, de gente de verdade. Bj
sergio geia disse…

Larissa, querida, obrigado! É isso aí, 100% real, o encontro com amigos e as histórias comentadas. Beijos e venha sempre!
Cristiana Moura disse…
Que leveza , Sérgio, vc contando dos atravessamentos afobados do cotidiano!!! Ah... quero demais esta pizza!!
sergio geia disse…
Cristiana Moura, aguardamos ansiosamente o seu retorno. Pois é, precisamos de instrumentos de proteção contra esses "atravessamentos afobados do cotidiano". Quem sabe uma pizza? rsrs Bjs!
Fred Fogaça disse…
Ótimas lembranças, Sérgio! Já entrei, também, em banheiro trocado. Não me lembro mais qual lugar, sei só que levei uns bons segundos pra entender, olhando pr'aquelas mulheres me olhando, o que tinha de errado na situação.
sergio geia disse…
Fred, Fred, você acredita que depois da crônica muita gente veio me dizer o mesmo? Teve amiga que entrou em banheiro masculino por engano e viu coisas, bom..., você imagina. Pelo jeito tá todo mundo desorientado, como já disse um dia o carteiro que foi entregar uma carta pro Rubem Braga
Zoraya Cesar disse…
hahaha, Meninos, eu tb já entrei em banheiro errado, usei e só qdo, livre do aperto afligia, percebi os mictórios na parede, e um rapaz entrando...
Sergio, amo suas crônicas, vc sabe, né?

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