estranhos ao ocaso >> branco

a moça bonita
dança sob as águas do chafariz
as roupas molhadas
mostram um corpo ainda menino
o sorriso que ilumina o rosto
- alegre
espontâneo -
denota a felicidade
seus gestos
suaves e encantadores
transformam aquela rotineira tarde de verão
em algo impossível de ser descrito

a cena
deixa boquiabertos os transeuntes
fala-se em loucura
em juventude
em inconsequência
os homens e suas pastas de couro
as mulheres e seus sacos de pão
- e leite -
os jovens e suas invejas
passam pela cena
as senhoras - da missa - com os seus rosários
apenas abaixam a cabeça
e vão

entre os que olham
apenas um está calado - mas sorri -
já viveu muitas vidas
e sabe que aquele momento sublime
é tão passageiro como todos os outros
ele tem um quarto - e uma cama -
uma cozinha
um banheiro
os filhos se foram
a mulher também
ao seu lado
um vira-lata lambe as feridas
mas ele ainda está sorrindo
- calado
extasiado -
antes de recomeçar o seu caminho
enquanto as luzes da praça se acendem
e o ocaso começa a pintar aquele céu de verão



Comentários

Anônimo disse…
Romantismo, a sutileza do realismo crítico. Essa poesia me parece pertencer aos mundos das fotos, exemplifica a poesia que você publicou anteriormente.
Olhar com o seu olhar é para poucos. Parabéns
Alexandre Silva disse…
Como já esperado, sensacional, suave e trabalho um flash um momento, o que o torna, rico, cheio de detalhes e óticas.
Claudia disse…
Muito lindo!😍⚘
Carlos Eduardo disse…
Maravilha
sergio geia disse…
amigo branco, você arrebenta; show, lindo demais
Anônimo disse…
Isso que é poesia de qualidade!
João JC disse…
A visão da experiência,..
Bravo meu amigo!! Parabéns!!
Anônimo disse…
👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻 ....senti a felicidade em duas faces....na menina, a ignorancia (de una criança sobre as mazelas da vida, que encantada pelo "imediatismo" da fonte. No senhor, a felicidade como o sublime (que me soou momentáneo), por saber que a vida é tao passageira e cheia de altos e baixos, que sucumbir às mazelas é burrice. O senhor concorda com a fonte.
Anônimo disse…
Obrigado por compartilhar conosco está reflexão. Você sempre me transposta de uma maneira ou outra à sua obra. Espero ansioso pela próxima. Parabéns!
Carla Dias disse…
Aconteceu de, em alguns momentos, parecer que eu apreciava um quadro, daqueles de imagem triste e bela. Uma fotografia pincelada com palavras. Muito bonito.
branco disse…
agradeço, em sincero, cada visualização e cada comentário feito. fico feliz, afinal vocês se dispuseram a perder alguns minutos e entrar dentro do "meu mundo" e nessa "viagem exploratória" conseguiram o entendimento do que tento transmitir. mais uma vez agradeço (os agradecimentos sempre devem ser efusivos) e feliz que estou divido ( a felicidade momentânea) com vocês.

Zoraya Cesar disse…
branco, minha mente consciente escapuliu correndo atrás das suas palavras e dançou, se alegrou e se entristeceu com todas. Amei a descrição dos transeuntes, amei. E ainda por cima me fez lembrar a cena da Anita Eckberg em La doce vita. Acho q vc, assim como a Carla Dias e a Cris, conquistou para sempre a parte do meu coração que se derrete por um lirismo sutil e aveludado. Obrigada pelas sensações!
Unknown disse…
Branco, o clima suave das suas poesias me encanta sempre! Essa fragilidade do momento é tão difícil de agarrar que é difícil de colocar em palavras boas. Ótimas poesias!
Carlos Gomez Brito disse…
Perfeito! Torço por um mundo com mais pessoas como essa moça bonita e o observador silencioso.
Tereza Lima disse…
Como das outras vezes... assisti como um filme. Você é o melhor.

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