NÃO DÁ NEM PARA AJUDAR >> Clara Braga

Chegando em casa, ao estacionar o carro, ela foi abordada por um senhor. Ele precisava de dinheiro para completar o valor necessário para comprar uma bombinha de asmático. Sabendo da gravidade do problema, já que ela também era asmática, não demorou para responder: eu não tenho o dinheiro para te dar, mas eu tenho a bombinha em casa, espera um minuto aqui que eu vou pegar para você. Ao voltar com o remédio o cara tinha sumido, a bombinha nada mais era do que uma desculpa plausível.

Um outro rapaz foi abordado por um outro senhor que precisava urgente de um remédio para o filho. O remédio era caro, não estava disponível na rede pública e ele, recém-desempregado, não tinha dinheiro para comprar. Sabendo que saúde é assunto sério e, provavelmente se colocando na mesma situação, o rapaz levantou da mesa de bar onde estava e se ofereceu para ir até a farmácia comprar o remédio para o senhor. Após levantar, se virou para seguir para a farmácia que ficava ao lado, quando foi falar com o senhor para perguntar o nome do medicamento só conseguiu ver o vulto do homem que sumiu entre as mesas. Mais uma desculpa plausível.

Aquela mulher passa de mesa em mesa explicando o problema da sua filha recém-nascida e diz que ela só pode tomar um tipo de leite específico e, claro, nunca é o leite mais barato do mercado. Enquanto você procura seu dinheiro, a mulher se afasta e canta uma música religiosa. Conheço várias pessoas que ajudaram uma, duas, até três vezes. Mas chegou um ponto que ficou difícil, já tem alguns anos que essa história se repete, essa criança continua recém-nascida e, se você ajuda mesmo sabendo que a história é mentira, percebeu que ela nem canta mais a música. Pelo menos decidiu parar de apelar para o lado religioso.

Em outra situação, o homem, acompanhado de sua esposa e um neném de poucos meses no colo, explica que tem apenas 15 reais no bolso, mas precisa comprar um remédio para o filho e, além disso, precisa de passagem para chegar ao hospital. O filho tem uma consulta e ele não tem mais dinheiro, gastou tudo com outros medicamentos que controlam a doença da criança. Pelo que ele disse, naquele momento ele precisa de 45 reais, sendo que desses 45 já tinha os 15. O casal se comoveu vendo o neném, não era possível que alguém fosse tão cara de pau para mentir com uma criança no colo, completaram o valor que faltava. Mas parece que óleo de peroba é a única coisa que esse povo tem dinheiro para comprar. Observaram o homem por um tempo e viram que ele abordou pelo menos mais três pessoas. Para todas ele disse que precisava dos mesmos 45 reais, ele só esqueceu de falar o valor que já tinha conseguido, continuou falando para todos que tinha apenas 15.

Aquele surdo que entrega um panfletinho que ensina você a falar o alfabeto em libras, pois é, pasmem, não é surdo coisa nenhuma.

De todas essas histórias, me senti a sortuda. Fui a única com um resultado positivo na ajuda. Quando fui abordada em um bar por um senhor que precisava de fralda para o filho, disse que estava só com cartão, não tinha dinheiro, mas como tinha uma farmácia perto, não me importava de ir lá com ele comprar a fralda. Para minha feliz surpresa, ele não sumiu, não deu desculpas, não reclamou, nem nada do tipo. Foi comigo até a farmácia, agradeceu muito, pegou a fralda e seguiu seu caminho. Me senti orgulhosa da boa ação, já que parece que não está fácil nem para quem quer ajudar os outros. Mas, como o mundo não é um mar de rosas, a minha história não podia ser a única diferente. Assim que terminei de contar meu final feliz, fui informada: você sabe que normalmente esse pessoal de rua não nega fralda né, afinal fralda e cigarro funcionam como moeda de troca para eles.

É… depois perguntam por que ninguém confia em ninguém. De agora em diante, o lema é ajudar ou não sem peso na consciência, cada um faz sua parte. E para essas pessoas que enganam os coleguinhas, saibam que eu não desejo mal para ninguém porque energia é algo que volta, mas tô rezando para que o tal ser superior que tudo vê seja um ser bem bravo!

Comentários

É Clarinha, está difícil até pra quem quer ajudar as pessoas.
Comigo aconteceu de dar pão e banana pra um mendigo que dizia estar com fome e ele jogar fora dizendo que estava cansado de comer pão e banana.
Fiquei indignada!
Beijo

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