VOCÊ TEM FOME DE QUÊ? >> Fernanda Pinho
Simplicidade é o último nível de sofisticação. Bonita a frase, não? Pena que não é minha. É do Leonardo da Vinci. Não sei dizer ao certo a que ele se referia, creio que não era sobre comida. Mas poderia ser. Me lembro bem de duas ocasiões na minha vida nas quais eu teria trocado qualquer coisa por um bom prato de arroz, feijão, bife e batata. Na primeira, eu era muito nova e idiota, e fui a um restaurante de comida japonesa com um namorado. Ele, todo felizão, pois era sua comida favorita. Eu, toda tensa, pois nem sabia manusear hashi. Foi triste. Ele enchia o prato daquelas coisas todas que até hoje não sei o nome - pois deixei de ser idiota, mas continuo odiando comida japonesa - e eu fazia o mesmo. Por falta de coragem de dizer que tinha pavor daquilo. Pedi uma Coca - saquê já seria demais - e pensei que facilmente colocaria tudo aquilo pra dentro (afinal, Coca até desentope pia, né?). Mas quem disse? Até hoje eu me lembro da sensação de eu mastigando aquelas coisas frias e sem gosto, a garganta fechada, a mandíbula doendo de tanto mastigar, o olho cheio d'água. Sério. Se você gosta de comida japonesa, se imagine sentado numa mesa mastigando, sei lá, um monte de terra cheio de minhoca e entenderá a minha situação. Nojento, com o agravante de que eu estava morrendo de fome. Depois de muito custo, engoli uns três sushis e falei que estava satisfeita. Bom para meu acompanhante que, sem o menor sinal de ter percebido meu mal-estar (a sensibilidade masculina me comove!), comeu o que eu tinha deixado no prato.
Algum tempo depois, fui jantar na casa de uma amiga da minha mãe. Uma madame afetada, com mania de sofisticação. De entrada, ela serviu caviar. Eu nunca havia comido e, para falar a verdade, não achei assim tão horrível, muito menos tão gostoso. Prefiro mil vezes coxinha. Mas deu para suportar. O pior foi o jantar em si. Um trouxinha, amarrada com uma fitinha, boiando num caldo azul claro (que até hoje eu não sei se era parte da receita ou se ficou azul por conta de um acidente - à la Bridget Jones). Não tive coragem e tive de dispensar. Claro! Eu odeio azul até para roupas, como vou COMER uma coisa azul? Constrangida e não querendo me deixar sem jantar, a anfitriã me ofereceu carne de javali. Bem melhor que a coisa flutuante. Tirando carne de cobra e de cachorro, as outras eu aceito bem, embora o que realmente me faça feliz seja bife de boi.
Com o passar do tempo, eu fui aprendendo a respeitar um pouco mais a alta gastronomia e a me comportar melhor em jantares mais requintados, digamos assim. Mas quando tenho a oportunidade de escolher, eu fico mesmo é com o feijão tropeiro. E quando não tenho escolha, declino.
Como num coquetel-metido-a-besta que fui há algum tempo. Morrendo de fome (pra variar), ouvi um garçom – que estava de costas para mim – dizer as palavrinhas mágicas: manjericão com presunto de Parma. Meus olhos brilharam, meu estômago deu uma vibradinha de felicidade e eu fiz um discreto malabarismo para ficar de frente para o garçom e me servi com um delicioso pedaço de pizza. Mas, para meu total desapontamento, não era pizza. Era SORVETE de manjericão com presunto de Parma. Sorvete! Bons tempos aqueles em que sorvete era morango, chocolate e flocos.
Comentários
O duro mesmo é disfarçar, porque tenho certeza, que assim como eu, vc não consegue fazer isso tão bem nesses momentos, né não?rs
Beijoooocas e saudades!
essa trouxinha boiando no caldo azul é difícil até de pensar, imagine comer.
Beijos!