UMA COISA >> Eduardo Loureiro Jr.
Às vezes, tem uma coisa.
Se fosse no olho, eu saberia: um cisco. No pé: um espinho. No rim: uma pedra. Mas agora tem uma coisa que eu não sei o que é, onde é.
Se faço qualquer coisa, sinto-a como um incômodo constante. Se paro, na tentativa de percebê-la, ela se esconde. É uma coisa em movimento que para quando paro.
Porque a gente tem sempre alguma coisa a fazer. Por que a gente tem sempre que fazer alguma coisa? A vida, às vezes, é um quebra-cabeças que a gente jura que está faltando peça. Não adianta se dar ao trabalho de montar uma imagem esburacada que só aparece inteira na imagem na tampa da caixa.
Será que tem uma coisa ou é uma coisa que está faltando?
No olho, eu saberia: um colírio. No pé: um carinho. No rim: um alívio. Mas agora não tem uma coisa que eu não sei o que é, onde é.
Se for coisa que tem, talvez resolva ficar imóvel, paciente, fingindo que o que há é coisa que não se sente quando se para.
Se for coisa de não ter, talvez comida resolva. A não coisa pode ser fome de alguma coisa, embora outra coisa que não aquela que a comida só irá distrair.
Pode ser coisa de escrever. Coisa que ao mesmo tempo tem e não tem, é e precisa ser, verbo ainda desencarnado.
Pode ser qualquer coisa, e eu aqui de besta catando agulha no palheiro, correndo o risco — na melhor das hipóteses — de furar o dedo ou então só ficar me coçando de alergia o dia inteiro.
Sim, pode ser alergia. Não na pele, na epiderme, mas muito abaixo da endoderme, lá onde o vazio se esconde, embrulhado por nossa carne. Uma alergia na alma, talvez.
Sim, eu sei o que fazer. É só pegar o dia de ontem e catar incômodos — mais fáceis de achar que agulhas em palheiros. Mas estou com preguiça. E, como diz um amigo, "preguiça não se desperdiça".
Então é isso: preguiça, um pecado capital. Não uma coisa que não é querendo ser. Mas uma coisa que já é tentando não ser mais. Uma tentativa de morte. Um suicídio de algum tipo. Um mergulho sem pulo. Um desmaio já deitado. Um sonho esquecido.
Só uma coisa que, de vez em quando, dá na gente.
Se fosse no olho, eu saberia: um cisco. No pé: um espinho. No rim: uma pedra. Mas agora tem uma coisa que eu não sei o que é, onde é.
Se faço qualquer coisa, sinto-a como um incômodo constante. Se paro, na tentativa de percebê-la, ela se esconde. É uma coisa em movimento que para quando paro.
Porque a gente tem sempre alguma coisa a fazer. Por que a gente tem sempre que fazer alguma coisa? A vida, às vezes, é um quebra-cabeças que a gente jura que está faltando peça. Não adianta se dar ao trabalho de montar uma imagem esburacada que só aparece inteira na imagem na tampa da caixa.
Será que tem uma coisa ou é uma coisa que está faltando?
No olho, eu saberia: um colírio. No pé: um carinho. No rim: um alívio. Mas agora não tem uma coisa que eu não sei o que é, onde é.
Se for coisa que tem, talvez resolva ficar imóvel, paciente, fingindo que o que há é coisa que não se sente quando se para.
Se for coisa de não ter, talvez comida resolva. A não coisa pode ser fome de alguma coisa, embora outra coisa que não aquela que a comida só irá distrair.
Pode ser coisa de escrever. Coisa que ao mesmo tempo tem e não tem, é e precisa ser, verbo ainda desencarnado.
Pode ser qualquer coisa, e eu aqui de besta catando agulha no palheiro, correndo o risco — na melhor das hipóteses — de furar o dedo ou então só ficar me coçando de alergia o dia inteiro.
Sim, pode ser alergia. Não na pele, na epiderme, mas muito abaixo da endoderme, lá onde o vazio se esconde, embrulhado por nossa carne. Uma alergia na alma, talvez.
Sim, eu sei o que fazer. É só pegar o dia de ontem e catar incômodos — mais fáceis de achar que agulhas em palheiros. Mas estou com preguiça. E, como diz um amigo, "preguiça não se desperdiça".
Então é isso: preguiça, um pecado capital. Não uma coisa que não é querendo ser. Mas uma coisa que já é tentando não ser mais. Uma tentativa de morte. Um suicídio de algum tipo. Um mergulho sem pulo. Um desmaio já deitado. Um sonho esquecido.
Só uma coisa que, de vez em quando, dá na gente.
Comentários
Beijo.
ninguem fala de COISA melhor do que vc!!!
Essa coisa de coisar é patente sua e pronto!!
Bjao!
Fê
Fernanda, se você está coisando, eu vou coisar. :)