GARGALHADAS E AMOR >> Carla Dias >>

Eu adoro comédias românticas, o que para mim são como contos de fada contemporâneos... Se não forem filmes de Tim Burton, pois aí os contos de fada tomam outro rumo. As fadas endoidecem um pouco...

Eu adoro Tim Burton e comédias românticas. E When Harry Met Sally. Será que vou adorar Alice no País das Maravilhas? Vamos ver, Tim, se a sua Alice e o seu Chapeleiro Maluco me ganham.

Comédia, na indústria do cinema, é algo com muitas facetas, de acordo com quem cataloga – ou seja lá o termo técnico usado – os filmes. Mas nem tudo está na tela do cinema. Comédias românticas acontecem nas nossas vidas quando, por exemplo, notamos alguém no supermercado, no ponto de ônibus, na fila do banco e achamos um charme um gesto dessa pessoa que passou despercebido para as outras ao redor. E que se não fosse nosso interesse pelo autor dele, o tacharíamos de bobo, inconveniente.

Às vezes, a comédia romântica é um leve drama, se é possível haver drama com toques de leveza. E o chororô que começa logo na primeira cena e se estende até o epílogo da trama, prefaciando um final feliz, nos faz rir por dentro e pensar: “Chora não... vai dar tudo certo”.

Comédias românticas foram feitas para os finais felizes, mesmo quando o autor faz os personagens levarem altos tombos e se machucarem um tanto. Não há como se desviar do olhar manhoso do último encontro dos protagonistas, ou dos suspiros quando nos lançam a ideia de que, o tempo todo, aquela não era a moça certa para o moço bacana. A certa é a bibliotecária, a coadjuvante, aquela com quem ele conversa, uma vez por semana, e são essas as conversas mais inspiradas que ele anda tendo. Aquela que não foi notada como a outra protagonista, que entrou para arrebentar, mostrando-se ativa, altiva e perspicaz. Aquela que chega ao silêncio do outro não fazendo barulho, mas compondo a canção de amor que um dia será deles, quando ele notá-la.

Todo romance tem a sua comédia e o cinema tem feito bem o trabalho de expor essa nossa condição de românticos e patetas. Mas se engana aquele que pensa que nas comédias românticas há apenas diversão e cenas de amor. Há cenas de desamor, também os desafetos se mostram, as desfeitas, o lado B que torna o amor mais risível do sorridente.

A comédia é uma ótima maneira de se abordar limitações ou mesmo diferenças que, ao contrário do que grita a torcida, é mais um benefício do que uma maldição. Mas há que se ter talento para conduzir essa paródia, pois a comédia romântica pode se tornar uma tragédia grega cinematográfica se roteiristas, diretores e atores não estiverem em sintonia. É preciso que haja a mesma mágica dos dramas, dos filmes de ação, dos infantis, a sutileza dos filmes de fantasia. É preciso incluir os melhores ingredientes para nos fazer brindar a nossa própria realidade embaralhada naquelas quase duas horas da realidade inventada com as nossas verdades.

Uma das comédias mais bacanas, que está entre as que eu assisto, sempre que me dá vontade de revisitar os meus afetos, é Feito Cães e Gatos (The Truth About Cats and Dogs/1996), com direção de Michael Lehmann, também diretor de episódios de séries de televisão como True Blood e Californication, e roteiro de Audrey Wells, também roteirista e diretora do gracioso Sob o Sol de Toscana (Under The Toscan Sun/2003).

Feito Cães e Gatos é um filme sobre diferenças e notações. Sobre o olhar que lançamos ao outro. Janeane Garofalo, que interpreta Abby Barnes, uma veterinária que tem um programa de rádio que trata de cuidados com animais de estimação, é a mulher inteligente e com predicados que interessariam a qualquer homem, mas ela se acha não muito atraente. Ben Chaplin interpreta Brian, ouvinte que aparece na rádio para agradecer Abby pelos conselhos que tanto o ajudaram com o seu cachorro. O problema é que, antes da visita, por telefone, Abby descreve a si mesma, fisicamente, como a sua vizinha, Noelle Slusarsky, interpretada por Uma Thurman, uma modelo belíssima e desajeitada. Então, Abby pede a Noelle que se passe por ela.

Tem sim um quê de Cyrano de Bergerac, de se colocar as qualidades em um embrulho muito mais atraente. Mas acredito que muitos de nós passamos por situações semelhantes e cada um viva e relate suas experiências de maneira diferente. É essa forma de contar a história, de torná-la sedutora que torna um filme bem feito.

Quem sabe, dia desses, a sua comédia romântica se espreguice até rasgar a casca dos dramas. E assim você possa viver entre gargalhadas e amor, tirando de letra as dificuldades. Eu espero que sim... Sabe por quê?

Adoro comédias românticas... Mas os contos de fada contados por Tim Burton, não se esqueça, eu também adoro.



Comentários

Unknown disse…
Oi Carla,

Tb sou fanzézimo de "CM" (gostou da intimidade com o gênero?). "Enquanto vc dormia (While you were sleeping)" e "Sintonia de Amor (Sleepless in Seattle)" são as minhas favoritas e as assisto semestralmente pelo menos, e, faço todos os meus alunos assistirem em inglês para treinar listening comprehension. Ainda não assisti Harry e Sally pois tenho problemas de ver Billy Cristal. Deve ser trauma das antigas entregas do Oscar, quando ele jurava que era engraçado... Tirando minha aflição do Billy (tb tenho de Nicolas Cage, não sei por quê... Preciso ver isso em terapia...), preciso assistir pois todo mundo comenta.
Carla Dias disse…
Walter... Adorei a intimidade com o gênero. CM está ótimo!
Também gosto demais de “Enquanto Você Dormia”. Na verdade, tenho a minha listinha básica dos filmes que mais gosto e nela constam várias CMs. Eu também não sou super fã do Billy Cristal, mas Harry e Sally é um filme tão bacana que vale muito a pena. A sintonia entre ele e a Meg Ryan resolve a encanação.
Beijos e obrigada por passar por aqui!
Carla.
Pois não é que eu ainda não tinha pensado na minha vida como uma comédia romântica. E não é que é mesmo. :)
Carla Dias disse…
Pois é, Eduardo. A vida nem sempre precisa ser uma tragédia grega. Ela pode ter os seus momentos de comédia romântica :)

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