DRUMMOND PARA DISTRAÍDOS >> Albir José da Silva
Da primeira vez xinguei os palavrões de praxe e segui pensando na droga da vida. Praguejava ainda pela dor mas já nem lembrava do motivo. Tanta coisa incomodava: o chefe, a financeira, a glicose, o colesterol e o time despencando para outras divisões.
Quando aconteceu de novo me senti injustiçado. Ainda sentia a primeira dor. Por que eu? Afastei idéias de destino e fatalismo, mas o que estava acontecendo? Difícil não pensar em pragas, maldições e castigo divino. A dor subia em ondas pela perna, baço, fígado, costelas e coração. Coração acelerado sacolejava uma espuma vermelha com adrenalina, bile e outras substâncias de desamparo. Por que um ser humano tem de passar por isso quando só estava andando na rua – um direito constitucional que não encontra proibição em nenhuma religião? Nem mesmo tinha pensamentos pecaminosos naquele momento. E duas vezes no espaço de dois minutos! Ninguém se compadece. Cheguei mesmo a identificar sorrisos a minha volta. Egoísmo e crueldade – disso é feita a humanidade. Nenhum rosto amigo que perguntasse se eu precisava de ajuda. Respirei cachorrinho porque se ajuda no parto deve amenizar outros sofrimentos.
De novo! Assim já é demais. Três vezes! Descambei para razões médicas. Será que já não levanto suficientemente o pé? Falta de vitaminas? Pressão baixa, pressão alta? Parkinson, Alzheimer? A dor é estromboscópica: apaga e acende em vários lugares, pulsa nos ouvidos e fibrila no coração. Chamo a razão: calma, ninguém morre disso. As pessoas me olham, estou abraçado a um poste sacudindo a perna. Não me importo. Gemo baixinho, mas só porque estou sem forças. Saio cambaleando.
Agora manco dos dois pés e tenho vontade de me arrastar. Carros, buzinas e, ao meu lado, alguém que fala e gesticula. Não ouço as palavras e não entendo os gestos.
Nem vejo, no meio do caminho, uma pedra.
Quando aconteceu de novo me senti injustiçado. Ainda sentia a primeira dor. Por que eu? Afastei idéias de destino e fatalismo, mas o que estava acontecendo? Difícil não pensar em pragas, maldições e castigo divino. A dor subia em ondas pela perna, baço, fígado, costelas e coração. Coração acelerado sacolejava uma espuma vermelha com adrenalina, bile e outras substâncias de desamparo. Por que um ser humano tem de passar por isso quando só estava andando na rua – um direito constitucional que não encontra proibição em nenhuma religião? Nem mesmo tinha pensamentos pecaminosos naquele momento. E duas vezes no espaço de dois minutos! Ninguém se compadece. Cheguei mesmo a identificar sorrisos a minha volta. Egoísmo e crueldade – disso é feita a humanidade. Nenhum rosto amigo que perguntasse se eu precisava de ajuda. Respirei cachorrinho porque se ajuda no parto deve amenizar outros sofrimentos.
De novo! Assim já é demais. Três vezes! Descambei para razões médicas. Será que já não levanto suficientemente o pé? Falta de vitaminas? Pressão baixa, pressão alta? Parkinson, Alzheimer? A dor é estromboscópica: apaga e acende em vários lugares, pulsa nos ouvidos e fibrila no coração. Chamo a razão: calma, ninguém morre disso. As pessoas me olham, estou abraçado a um poste sacudindo a perna. Não me importo. Gemo baixinho, mas só porque estou sem forças. Saio cambaleando.
Agora manco dos dois pés e tenho vontade de me arrastar. Carros, buzinas e, ao meu lado, alguém que fala e gesticula. Não ouço as palavras e não entendo os gestos.
Nem vejo, no meio do caminho, uma pedra.
Comentários
Mas, tirar férias do trabalho e dar de ombros pra fincanceira, por si só deve melhorar o colesterol. A glicose, deixa assim pois você pode precisar de açucar. E a pedra... bem... se vier a enxergá-la, chuta. Melhor não arriscar.
:))
Beijo grande, guri!
Gostei da maneira como escreveu o seu texto.Conciso e claro. Parabéns!
Edu e Juliêta
sempre generosos! Obrigado.