Diploma não é a resposta. A resposta é a pergunta. >> Maria Rachel Oliveira



E voltou à baila o tema de ser ou não ser o diploma de jornalismo obrigatório para o exercício da profissão. Não fosse este um país onde a lei de oferta e de procura privilegia, em geral, a mão-de-obra mais barata em detrimento da qualidade – fora raras exceções – eu talvez nem me incomodasse tanto com isso. Acontece que, se sequer os jornalistas vem sendo devidamente treinados para exercer a profissão, que dizer daqueles que chegariam desavisados de outras áreas?

Claro, há quem vá argumentar que o jornalismo não é o mesmo de antigamente. Não, não é. As agências de notícias se popularizaram de tal forma que o que grandes veículos buscam, a grosso modo, é alguém que receba o texto de determinada agência – que é a mesma que envia para todos os outros grandes jornais – e o reescreva pra ficar mais com a ‘sua cara’ e não com a da Associated Press ou da BBC. Essa uniformização da informação, a meu ver, é ainda mais gritante no que diz respeito à mídia online. Outro dia mesmo estava refletindo como as notícias são, cada vez mais, as mesmas.

Quando eu entrei na faculdade, em 1991, internet ainda era uma coisa pouco conhecida, e estávamos longe desse conceito da globalização da informação. Computador também era um bicho esquisito, uma geringonça que tinha uma tela preta, e a gente escrevia em um tal de DOS, que vivia ‘dando pau’. Ainda sou capaz de me lembrar do meu primeiro, na redação do finado Jornal dos Sports. E do curso que fiz, no emprego seguinte; de ‘Windows’ (Hein?).

Naquele tempo, o jornalista ainda era aquele cara (ou aquela cara, tanto faz) que via um fato que podia virar uma notícia e corria atrás, da melhor forma, para descobrir o quanto pudesse. Sabia distinguir uma informação relevante de uma irrelevante e transformar aquela maçaroca em um texto – que não seria simplesmente um aprofundamento de qualquer coisa que uma agência tivesse mandado pronta ou resultado dos eventos que todo mundo cobre, todo mundo vê e, não necessariamente, interessa a todo o mundo. Querem um exemplo? Fashion Week. Todos os veículos falam dessa porcaria que, interessa a o quê, 10 porcento da população? Fora o chá de Glorinha Khalil na televisão por dias e dias. Isso para não mencionar as mesmas pesquisas da BBC pipocando em todos os veículos online.

Os jornais abriram tanto o leque de informações que fornecem que, excetuando-se as notícias regionais, as manchetes e os cadernos de cultura noticiam basicamente a mesma coisa de forma distinta. Não tem mais sentido ler um e outro, comparar pontos de vista. Tá uma coisa homogênea e chata pra diabos a tal da mídia ultimamente.

O que um jornalista – com diploma ou sem diploma – aprende, ou deveria aprender, é a ter faro para fatos, a distinguir o que é notícia do que não é. O novo, que o jornal de ontem não vale nada. Isso é o que se deveria ensinar. A buscar a notícia que não foi dada, o ângulo que não foi visto, correr atrás da peça do quebra-cabeça que falta.

Ninguém leva em conta que discutir a obrigatoriedade do diploma não é simplesmente discutir se jornalista sabe ou não escrever. Infelizmente cada vez menos jornalistas escrevem bem, a exemplo do resto do mundo, que como menos lê e menos precisa escrever, desleixou também e agora é um festival de erros crassos pra todos os lados. Só deveria se chamar jornalista aquele que traz por dentro a sede de perguntar.

Comentários

Roney Maurício disse…
Ei Rachel,
acho que seu texto chega muito perto da realidade atual (e infeliz) do jornalismo brasileiro.

E os salários pagos aos profissionais recém-diplomados ilustra bem o real valor dos diplomas universitários...

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