TDA - TRAGO DICAS AMOROSAS << SORAYA JORDÃO
Minha mãe costumava dizer que o amor escolhe os distraídos. Levei muito tempo
tentando entender qual seria o motivo desse sujeito mega cobiçado apresentar uma
preferência tão esquisita e duvidosa. Afinal, os distraídos nunca são contemplados com
nenhum tipo de benesse ou favoritismo nesse mundo do alto rendimento.
Muito pelo contrário, nós, os desatentos, estamos, constantemente, no foco da culpa, do
esporro, do erro, do problema. Há sempre um dedo em riste a questionar os motivos da
nossa incompetência para lidarmos com as demandas e urgências do viver produtivo.
O que justificaria uma escolha pelos desprovidos de qualquer genialidade e perfeição?
Sei não, acho meio bizarro essa “quedinha” do amor pelos dispersos, não tão ágeis nem
competitivos e exibidos.
Depois de muito matutar, cheguei à conclusão de que o que parecia inexplicável não o
é. Faz sentido que o amor se encante e se revele aos distraídos. Ele não precisa de
alfaiates ou nobres tecelões de expectativas pré-fabricadas.
O amor é rebelde, gosta de andar nu entre os seres, na avenida dos dias. Necessita
caminhar descalço, tocar o chão das coisas. Dançar desengonçado entre os cacos de
projeções e exigências.
Faz sentido…
O amor gosta de sorrir para quem não fica reparando nos seus dentes.
Assoviar desafinado uma canção ingênua, sem sofrer julgamentos.
Sorte a minha que sou desatenta.
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