O ANIVERSÁRIO DA MINHA AMIGA >> Ana Raja
Minha amiga agradeceu. Tomei o último gole de café, sentei-me no sofá – vista para árvores, uma beleza - e continuamos a conversar. Tínhamos assuntos atrasados, e ficamos ao telefone por um bom tempo. É sempre assim quando engatamos um papo.
Os assuntos, dos mais variados: família, trabalho e perspectiva de aposentadoria, namoro, dança, viagem, a cor do esmalte escolhida para passar o dia de aniversário, exercício físico, mechas no cabelo para encobrir os fios brancos, a dor no joelho que apareceu sem motivo aparente e previsões para o futuro.
Ano que vem ela completará 60 anos. “É um marco”, disse.
Perguntou qual livro eu estava lendo. Comecei a contar a história, na maior empolgação, tentando resumi-la e não dar spoiler. Particularmente, não tenho problema com isso, mas ela, sim. Gosta da surpresa.
Alguns personagens do livro têm entre 42 e 46 anos de idade e são apresentados como pessoas ultrapassadas, sem perspectivas profissionais e pessoais. Já viveram tudo o que poderiam viver e o fim começa a dar sinais. Rimos disso. O ano da primeira edição deste romance é 1959. Outro tempo, graças a Deus!
Hoje, dá para imaginar uma mulher nessa fase da vida ser considerada ultrapassada? Não que eu seja das pessoas que enxergam apenas coisas positivas, depois de passarmos dos 40 e estar à porta dos 50. Mas decidi não falar dos perrengues com a aniversariante.
A minha amiga está em uma fase ótima. Ativa e feliz. Agora tem um caderno novo de capa colorida, para agendar os eventos pendentes que irá realizar.
Ter fome de vida. Viver.
Terminamos a conversa com ela comentando sobre as primeiras tarefas anotadas em seu caderno novo, e o destaque foi renovar a carteira de identidade ainda neste ano, para que não venha nela um escrito em vermelho, no maior destaque: idoso. Nem quando idosAs somos reconhecidas.
E aos 60, finalmente ter o seu próprio cartão que conceda estacionamento prioritário e passeios individuais. Assim, poderá devolver o da mãe dela, usado apenas quando estão juntas.
Feliz aniversário!
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As dores delas, primeiro livro de Ana Raja, está a venda no www.editoraurutau.com.
Comentários
Ana, amei o texto! Espero chegar nos 60 um dia, com essa fome de viver, usando os benefícios da idade como facilidades para a alegria.e de cabelo azul. Afinal, se 30 são os novos 30, 60 hj em dia é lucro!!!