bebês reborn > whisner fraga

 


um sol desdenhoso arranha o dia: ele espia miúdo, casmurro, bate em minhas pálpebras desnorteadas, 

dia feio, arremato, as nuvens eriçadas ousam sequestrar a luz, a alegria, o ânimo, a firmeza: avançam,

as blusas, as jaquetas se preparam no guarda-roupas: tento afugentar o mofo com uns tapas desajeitados, 

dia feio ou sou eu que deformo tudo?,

contempla o dia e descobre a manhã, de repente um rastro de café descobre meu olfato, um pão de queijo estalando no forno, tenho certeza, isso não basta para a beleza, para a felicidade, até?,

é assim,

as costas ardem na cama, o desejo enfesta tudo,

às vezes nem quero sintonizar o jornal, mas preciso, é um vício saber dos despropósitos do mundo,

mesmo sabendo que há coisas terríveis, salpintadas de ilusão, mesmo sabendo que o tiro está lá, que a violência está lá, que a corrupção, a guerra, os conluios, a sordidez, que tudo contribui para o dia horrendo,

as notícias sobre os bebês reborn, que não cabem aqui, nesta crônica, mas enclausuram a sobriedade, e, helena, é preciso comedimento para encarar essa garoa se infiltrando na manhã de concreto,

estas plantas são para amenizar?, as gatas?, 

precisamos de sol, mas ele se esquiva,

as sombras flamejam o egoísmo,

demais.

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foto: atlantios, pixabay.

Comentários

Nadia Coldebella disse…
Concordo com vc, o mundo real está frio e distorcido. Assustador até. Ainda bem que nos restam os memes...

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