uma tarde quente de verão >>> branco
olho a praça
que está vazia
vazia de gentes
vazia de animais
não é sábado ou domingo
não existem motivos
para homens mulheres crianças
ou cachorros de raça
estarem na praça
nesta tarde quente de verão
olho as árvores estáticas
não sopra a menor brisa
bancos de madeira o bebedouro a fonte seca
os pássaros - ausentes -
a exceção é o vira-lata
estirado em sono profundo
- exceções -
o cão e eu na praça
nesta tarde quente de verão
olho as casas
que circundam a praça
janelas trancadas portas trancadas
- silêncio nas casas -
ao fundo da praça
a igreja
a pintura nova não esconde o tempo
sei que as senhoras estão lá dentro
com seus rosários rezam o terço e pedem intercessão
sinto pena
estão órfãs nesta tarde quente de verão
olho para a torre da igreja
e nela o sino
- também recém-pintado -
lembro-me dos sons
repiques alegres avisando da quermesse
ansiosos a chamar para a missa
rotineiro nas horas
infalíveis e familiares
ouvidos muitas vezes
em outras tardes quentes de verão
olho novamente a praça vazia
enquanto ouço o toque do sino
pausado e grave
- pausado
grave -
e penso que a partir de agora
o passado se inicia
o som do sino avisa - indiferente - aos fiéis
que o padre está morto
agora o eterno não estar
nesta tarde quente de verão
©2010 do autor
foto marcus web
arte p.aint
Comentários
esta sendo linda essas tardes quentes de verão.... Magnífica! 👍🏾
Gosto muito dos poemas dos seus poemas!!! São modernos, cheios de encanto!!!
Perfeito, vc tem esse dom de nos transportar com seus escritos.